terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A última consulta.

Não, infelizmente não dá para voltar no tempo. Reviver romentos. Rever atitudes. Mudar o plano de curso. Infelizmente, não posso trocar as palavras duras que eu usei. Não adianta eu me arrepender. Todo o diálogo está gravado, e eu pro resto da vida terei que conviver com a história do cara que disse tudo ao contrário, que fez tudo ao contrário, que não foi fiel a si mesmo. A história do cara que foi burro e que deixou a razão ensurdecer o coração. Eu, que hoje choro assistindo programas dominicais, já me recusei a enxugar as lágrimas de alguém. Ignorei a dor alheia, fiz pouco. Eu, que hoje coleciono escritas sentimentais, já fui tão frio quanto um psicopata. Tudo isso que veio depois não será apenas uma consequência? Quanto tempo ainda tenho de reclusão até ser solto? Será que eu não tenho sido um bom rapaz? Será que eu não mereço ter a pena reduzida? Quanto tempo até esse gosto ruim de fracasso sair do céu da minha boca? Eu juro, eu tenho tentado ser mais sincero, estar mais atento. Eu tenho pensado mais nos outros do que em mim. E você sabe, eu tenho me ferido bastante por conta disso. Eu tenho rejeitado ser amado com medo de fazer o outro sofrer. Acredite, eu nunca vou fazer isso de novo. Mas eu preciso ser solto. Viver aqui dentro não dá, conviver diariamente com isso é como ter um bracelete apertando meu pulso de minuto em minuto, me lembrando diariamente daquele que eu era. Eu não sou mais assim. Eu venho mudando, a cada ano que passa, e apresentando uma melhora, como o senhor mesmo disse na nossa última conversa. Cinco anos. Doutor, eu já aprendi a lição: não se deve brincar com o sentimento alheio. Hoje, o brinquedo sou eu. Sim, foi opção minha, como o senhor bem sabe. Foi o castigo que eu me dei pra tentar me livrar de uma culpa que me dava ânsia de vômito toda noite. Só que a brincadeira ficou séria. Agora eu não consigo mais fazer outro papel. Eu não consigo mais ver um relacionamento com otimismo, sempre desisto antes de tentar. Tudo por conta do medo. Medo de fazer aquilo de novo. Sabe, eu não quero ter que assistir alguém chorar na minha frente, enquanto eu ignoro e brinco de chutar pedrinhas no chão como se não ouvisse nada. Eu não quero ter que ouvir alguém se declarar e virar a cara como se não fosse comigo, como se não estivesse só eu e ele ali, sozinhos naquele banco de praça. Cansado dessa pele de assassino que eu vesti e não consigo mais tirar. Hoje, se ele me visse hoje, se ele me conhecesse só a partir de hoje, tudo seria diferente. Ele veria que eu não sou uma pedra de gelo. Doutor, depois desses cinco anos em terapia, eu posso dizer com aboluta certeza que eu derreti. Você mesmo balançou a cabeça concordando quando eu disse isso na nossa última consulta. O problema é que ninguém consegue ver isso, inclusive eu.

domingo, 18 de novembro de 2012

Todo mundo mente.

Jurei que nunca faltaria com a verdade, mesmo que a verdade fosse dura como pedra, mesmo que fosse daquelas de rasgar a pele, partir o coração em dois. Desde sempre, jurei ser sincero. Mas parecia que os outros não haviam feito esse mesmo juramento. Eu, que nunca tinha motivo para desconfiar, confiava. Eles, que não tinham nada a perder, me cegavam. Ouvi histórias que dariam filmes se não fossem mentiras disfarçadas. E mesmo assim, com tanta invenção sussurrada no ouvido, eu nunca faltei com a verdade. Até que um dia me convidaram para sair. Eu passei o meu endereço. Estava tudo certo. Trinta minutos depois eu estava sentando na sala esperando meu celular tocar, para que então eu abrisse a porta e descesse até o térreo para encontrá-lo. Uma hora, uma hora e meia... Comecei a ficar impaciente. Resolvi ligar para saber se alguma coisa havia acontecido. Caixa postal. Pensei em mandar mensagem, mas achei melhor não. Nós iríamos a um clube noturno e sendo assim, decidi ir até lá sozinho. Ele já havia me animado para sair e eu estava arrumado, por que ficar em casa? Enquanto estava a caminho dentro do táxi, fiquei pensando se não deveria voltar e ficar em casa. Afinal, o que eu estava fazendo exatamente? Deveria ter tirado a roupa, colocado minha cabeça no travesseiro e deixar pra lá. Certas coisas não devem ser remediadas, devem ser apenas... ignoradas. Não ignorei. Não era mais hora de pensar em voltar. Chegando no clube, resolvi ligar para alguns amigos e ver se tinha algum conhecido que estava por lá para que eu não ficasse sozinho. Felizmente, havia. O ambiente estava agradável, e a música te convidava a arriscar alguns passos na pista. Uma hora depois, entre alguns pulos e risos sem sentido, provavelmente efeito do álcool, vi ele chegando aparentemente sozinho. Enquanto eu passava pelas pessoas para poder chegar até ele, alguém do fundo vinha se aproximando e agarrou a sua mão. Parei no meio do caminho com uma garrafa na mão, sem saber se continuava, ou voltava e fingia que não tinha visto absolutamente nada. Na minha cabeça, isso deve ter durado uma eternidade. Respirei fundo e continuei atravessando aquele mar de pessoas animadas. Alguns pés esmagados depois, cheguei até ele.

- Oi, achei que você não viria, eu disse.
Ele largou a mão do outro rapidamente e respondeu.
- Eu não confirmei pra você que eu iria mesmo sair, então... acabou sendo de última hora.
- Ah, tudo bem.
- Você ficou chateado?
- Claro que não. 
- Meu celular estava descarregado. Você deve ter me ligado, né? Pra saber se eu viria ou não.
- Não, nem lembrei de te ligar... De qualquer forma, eu já iria vir pra cá mesmo com alguns amigos.
- Quer beber alguma coisa?
- Não, eu tô bem, já estou bebendo. Bebe você. Ou então, oferece para o rapaz que veio contigo. Enfim, eu tenho que ir, até mais. 

Aquilo havia me chateado. Não por ser ele, mas por aquela não ter sido a primeira vez que haviam mentido descaradamente. Eu também menti. Eu, naquela noite, tinha quebrado meu próprio juramento. Achei que nunca seria preciso faltar com a verdade, mas me enganei. Quando é para proteger a si mesmo de um possível sofrimento, até uma atitude falha é aceita como estratégia correta. Esse foi um daqueles momentos em que eu preferi mentir para não transparecer fraqueza. Quisera eu não dar importância, mas eu sempre me importo, fazer o que?

sábado, 17 de novembro de 2012

O certo também assusta.


Todas essas histórias que ficaram pelo caminho ainda me atormentam antes de dormir. Fico pensando no fim que poderiam ter tido caso ambas as partes tivessem continuado, lutado, sem terem desistido na primeira oportunidade. Tanta gente legal me dando bola, e eu fazendo gol contra, jogando para escanteio. Eu sempre querendo entrar onde não caibo, negligenciando as placas de "não ultrapasse" e me arrependendo, tentando voltar no passado e fazer tudo diferente. Colocando expectativas altíssimas em personagens recém-descobertos e desvalorizando as prováveis boas escolhas. Eu sei, eu deveria esquecer e achar que tudo está no seu devido lugar, que as coisas deveriam ter ocorrido dessa forma, que eu estou procurando motivos para explicações que, na verdade, são assim mesmo, sem respostas propriamente ditas. Mas não dá para deixar de imaginar como teria sido se eu tivesse insistido um pouco mais. Como seria se eu não tivesse deixado outra pessoa tentar no meu lugar. E pior, assistir a felicidade dela sem imaginar que ali, ao invés daquele cara, poderia ter sido eu. Em certas situações, eu admito que agi de forma correta, de acordo com o que a minha integridade manda. Em outras, nem tanto, desisti por medo de encontrar aquilo que tanto procurava, desisti por medo de estragar tudo. Antecipação é outro dos meus problemas. O certo também assusta. Eu sei, eu deixei algumas pessoas sem resposta. Sentei no canto da parede e abracei as pernas, quando deveria ter explanado tudo pessoalmente. Mas ninguém entenderia os meus motivos, porque não existiam motivos claramente embasados. Era só medo. E continua sendo medo. É como se eu gostasse de me machucar, e por isso, só tento arremessar argolas onde não há espaço para acertar. Como se algo que começasse errado pudesse dar certo lá na frente, só para que eu escrevesse uma história bonita, dizer que a minha vida não é feita de histórias previsíveis. Nessa de querer apostar em amores cinematográficos, eu continuo aos tropeços. Trazer essa criatividade hollywoodiana para a vida real tem seu preço e eu paguei caro por cada um deles. Enquanto que no filme, um casal se conhece no supermercado e terminam juntos quando sobem os créditos, na vida real você termina sendo o amante sem sequer saber disso. Uma coisa é certa: a vida não imita a arte.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Namoro a distância. #1


A gente se falava todos os dias, se amava quase que toda hora, Ana, minha ruína era tua calma. Deitados na minha cama de solteiro, você não queria mais me deixar, eu não queria mais te largar. Eu te entendia como Einstein entendeu a ciência, e eu tinha absoluta certeza que Deus tinha te criado para ser minha. Ana, Ana, eu gritava teu nome baixinho debaixo dos lençóis, e tua pele tão macia colada na minha, arrepiava os meus sentidos quando me beijava a nuca. Eu nunca vou te esquecer, sabia? Deixastes a cidade há mais de um mês, e ainda sinto teu perfume por toda a avenida, aquela que costumávamos sentar e contar os carros que estavam prestes a capotar. Chupava os dedos melados de sorvete de limão, e eu me dava inteiro como água pra você saciar sua sede. Você gostava das mesmas coisas que eu. Separávamos toda a cebola que víamos misturada ao macarrão, detestávamos carne de fígado, dias ensolarados, domingos, e se pudéssemos nunca colocaríamos outra roupa se não nossos pijamas surrados. Terror, romance, mas nada de tiroteio. E todo dia eu me pergunto o que estaríamos fazendo se você não tivesse partido. Ana, o presente agora é tão sem graça. E o futuro nunca foi tão esperado. Eu confio em você aí longe de mim, porque como você mesma me disse uma vez: não há ninguém como nós dois no mundo. E eu acredito nisso, e eu acredito em você, porque você, diferente de todas as outras que já conheci, nunca mentiria. Vi no jornal que aí chove pra caramba. Fica mais fácil não fica? Aqui não chove muito, mas eu quase não saio, o cinema sem você me faz cochilar, é estranho não ouvir você sussurrando no meu ouvido. Será que um dia a gente ainda vai conseguir terminar um daqueles sacos enormes de pipoca? Meu tempo está um pouco corrido, ainda não terminei minha monografia, por isso a carta vai acabar ficando curtinha mesmo, assim você não cansa ao ler, né? Saudade da tua preguiça. Me escreve o mais rápido que for possível.

Com amor, Bruno.

domingo, 11 de novembro de 2012

Rompimento.

Não consigo escrever nada agora. Está tudo tão recente, tão em carne viva, que simplesmente não sai nenhuma palavra que seja. De raiva, de amor, de saudade, de desespero, de dúvida. A porta recém batida. A chave ainda caída no mesmo lugar. Eu aqui no sofá, e você lá fora. Eu costumava saber por onde você andava, e agora não faço a menor ideia. Não faço a menor ideia de quem te acompanha na rua, se está só, se já jantou ou se está apenas dormindo, com a cabeça enfiada entre os travesseiros. Agora, eu não penso em nada. Não lamento, não derramo uma lágrima, mas soa como se a rotina inteira tivesse sido mudada, se os móveis não fossem mais minha cara. A cor da parede, os lençóis, a pia do banheiro. É como se não fizesse mais sentido. Uma palavra de raiva: droga. Arremesso o vaso contra a parede. Os vidros se espalham pelo chão. Como nós dois em um rompimento brusco, inesperado, da noite pro dia. Fácil, rápido, em poucos minutos. Aos poucos, o que estava embaralhado vai tomando um rumo. Eu sei que quando a saudade apertar, eu vou tentar discar o teu telefone, por isso é melhor que eu o apague antes que eu venha a memorizá-lo. Já vou providenciar a troca da fechadura, no caso de você tentar voltar. Eu avisei, se você saísse por aquela porta, eu não abriria ela novamente. E você foi, como se já viesse ensaiando essa saída há semanas. Não há dúvida de que todo rompimento dói. Não sei exatamente quando vai parar de doer, quando eu vou me acostumar com essa rotina nova. Certamente, irei demorar um pouco para reajustar meu relógio biológico. O primeiro passo é não colocar mais o despertador para tocar às sete, que era quando você precisava levantar para trabalhar dali uma hora. O segundo passo é não me importar mais em checar meu celular de minuto em minuto, para ver se alguma mensagem ou ligação havia passado despercebida. O resto, sinceramente, eu não sei. Não existe protocolo para esquecer alguém. Infelizmente, não há manual. Terceiro, quarto, quinto passo... não importa. O importante é continuar andando.

A última rodada.

Cava, cava, antes que seja tarde demais. Agarra na mão do primeiro que te oferecer o lugar pra sentar no ônibus. Aceite carona de estranhos, agora não vale mais conselho de mãe. São os últimos minutos, a última rodada, só restam mais duas garrafas de vodka no freezer. O fim do mundo está próximo, menos de dois meses. Troque cem por meia dúzia, se reduza. Suja tua calça branca na lama, o ano novo se aproxima. Saia de casa, de segunda à domingo. Não, a hora de ser romântico já passou, agora não dá mais tempo para comprar flores, o táxi tem pressa. Não é mais permitido escolher demais, qualquer tiro que acerte o alvo já é suficiente. Pouco importa se ele gosta de filmes, ou ela prefere a cor azul. Tira o cinto da calça e manda ver. Nomes depois. Telefones, melhor não. O tempo corre, não espera, ele está bem, não precisa esperá-lo rodar a chave e abrir o portão. Essa preocupação é desnecessária, satisfazer o desejo sexual é o que importa. Foco. Não, você não quer saber se ela se importa. Não perca tempo explicando que você não é pra vida toda, que é coisa de momento, pra ser mais exato, coisa de cinco minutos. Não precisa dizer pra ele não te cumprimentar quando se esbarrar contigo, ele vai entender, uma hora ou outra. Minta se for necessário, se for para chegar onde você quer. Nos classificados do dia seguinte, um desabafo de uma assalariada: alega seriedade durante o dia, e de noite pede pra ser chamada de puta. Quer girar a roleta mais uma vez? Não, eu definitivamente estou fora do jogo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ação e reação.

Eu sempre costumo retribuir aquilo que me é oferecido. Abraços, afagos, carinhos, beijos, ombros, apertos de mão, e todo o resto. Amor, amor nem tanto, admito: nem sempre consigo ser recíproco. É do direito dos outros não corresponder aos meus sentimentos, logo, também é um direito meu deixá-los a míngua. Nem sempre costumo ser correto, agir conforme o planejado, ser cem por cento honesto. Tanto comigo, quanto com os outros. Já olhei meu telefone tocar várias e várias vezes, e ignorar. Eu poderia ter atendido e explicado que não daríamos certo, que tinha sido apenas uma noite de carência e nada além daquilo. Por medo de ser incompreendido, chamado de confuso, preferi ouvir as chamadas e fingir que não estava em casa. Eu poderia acabar com aquilo de forma rápida, mas faltava coragem. Já disse coisas que eu não sentia, mais uma vez, por covardia, por não conseguir ser sincero o suficiente para interromper um beijo com um "é melhor você ir embora". Quando ignorei, menti, e fingi, percebi que eu havia feito exatamente aquilo que fizeram comigo no passado. Entendi o motivo das minhas ligações nunca serem atendidas, os primeiros encontros que, ao meu ver, pareciam ir exatamente da forma como eu esperava, porém, no dia seguinte, se afogavam ainda em formação. Durante a vida, ainda iremos agir como uma dessas pessoas que costumamos criticar e dizer que não é um modelo a ser seguido. Ainda estaremos do lado oposto da moeda. Cruzaremos aquela linha que juramos de pé junto, que jamais cruzaríamos. Nos colocaremos na pele do lobo, e na pele do cordeiro. Agiremos como bons rapazes, e belas vagabundas. Diremos que o amor não vale nada, e no dia seguinte, acordaremos com uma vontade de amar o primeiro que pedir licença na fila do banco. A vida é como desferir golpes em um saco de areia: um dia você bate e no outro é atingido.

domingo, 28 de outubro de 2012

Quando o "nós" se tornou apenas "eu".

Virando o apartamento do avesso. Limpando cuidadosamente cada pedaço. Cada cantinho da parede. Tentando tirar a mancha de vinho derrubada no nosso último jantar. Os pratos, todos enfileirados em cima do balcão. Sujos. Serviço inacabado, como eu e você. Vinha ignorando, atravessando a sala rapidamente. Sem dar tempo suficiente para lembrar. Não sei de onde veio tudo isso. A insegurança, a vontade de não continuar. Não sei se você conheceu alguém, se sabe de algo que eu não sei, ou se apenas deu o que tinha que dar. Eu vinha deixando pra lá. Sempre adiando lavar os lençóis, encaixotar as poucas coisas que você esqueceu. Pasta de dente, escova de cabelo, um par de meias e o relógio que eu te dei de presente. De repente, não havia ninguém me acordando aos beijos. Ninguém dando bronca por ter deixado, mais uma vez, a toalha molhada em cima da cama. Uma xícara, um prato, uma taça. De um dia para o outro, voltei a ser eu. O "nós" havia saído pela porta há poucos dias atrás. Decidi que não deveria mais lamentar. A única saída era que não tinha saída alguma, a não ser seguir em frente. Lavei os pratos, coloquei seus pertences em uma caixa, e essa caixa atrás de uma porta com outras coisas velhas. Coisas que não tinham mais uso, como você. Objetos que foram esquecidos. Que não servem mais para nada. Que um dia foram importantes, e hoje só estavam ali para fazer volume. Passou um mês, e eu ainda não tinha esquecido. Decidi que era hora de sair. De sair daquele apartamento, de tentar respirar qualquer coisa que não fosse saudade. A dois quarterões dali, te reconheci jantando em um restaurante que costumávamos ir. Você não estava sozinho, e muito menos, parecia estar triste. Ver que eu me importava demais, me deixou extremamente irritado.Agora eu sabia exatamente o porque de você ter ido embora. O que eu sentia por você não era mais saudade, era ódio. Como do sólido ao gasoso, eu só precisava de mais algumas horas até que a raiva se dissipasse no ar. No dia seguinte, joguei a toalha molhada na cama de propósito, e pela primeira vez depois de um ano, foi bom não ouvir alguém reclamar.

sábado, 27 de outubro de 2012

Um é pouco, dois é bom. E três, é demais?

Para algumas, não.  Fazer sexo a três é uma das fantasias mais frequentes nos relacionamentos atuais. Acostumado com a monogamia, confesso que essa ideia chega a me assustar um pouco. Não que eu não faria, mas nunca tinha parado para pensar nessa hipótese. Além de uma mente aberta, é necessário que haja bastante cuidado quando se opta por realizar um desejo envolvendo uma terceira pessoa. Como separar o carnal do emocional? Sexo é uma coisa tão íntima, que eu não consigo acreditar que isso - futuramente - não vá afetar a relação do casal. Será que essa procura é gerada apenas por fetiche, ou existe uma falha no relacionamento que precisa ser reparada? É possível transar com alguém sem se envolver emocionalmente? Para essa última pergunta, eu sei que a maioria vai dizer que sim, inclusive eu. O problema, na minha opinião, não é matar a curiosidade, é essa curiosidade se transformar em uma tarefa rotineira. Virar necessidade. É preciso muita, muita maturidade de ambas as partes. Definir limites. Se o desejo for conjunto, não vejo nenhum problema. Mas se um dos dois não suporta nem ouvir essa ideia, o casal precisa entrar em consenso ou romper. Há dezenas de pessoas por aí que pensam como você. Não tente fazer algo que você não gosta, só para realizar uma fantasia que não é sua, só para que ele ou ela não termine com você. Ceda até onde você acha que consegue, se perceber que a corda está prestes a quebrar, solte, desista. Ultrapassar seus próprios ideais é irreversível. No final das contas, quem sai prejudicado é você.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Carta de despedida.

Sinto muito, mas eu só vim até aqui para dizer adeus. Eu queria, Deus sabe como eu queria, mas não dá. Eu não dirigi uma hora de carro para dizer que o problema não é você, ou que sou eu. O problema somos nós, essa é a verdade. É você, porque eu nunca vou me acostumar com o fato de que nós nunca iremos juntos ver um filme no cinema. Sou eu, porque eu nunca vou deixar de ir, mesmo que sozinho. Eu sei, a gente não precisa fazer tudo junto. Você não gosta de cinema, jantar a luz de velas e monogamia. É demais. É algo que eu não consigo fingir que não vejo. Ficar com você seria fugir, seria dizer que eu não gosto de mim como eu sou. Seria renegar minha autoria, minha maneira de escrever. Não vou mudar. Por você, nem por ninguém. Nada do que você diga vai mudar minha posição. Eu sei que você também não vai ceder. Quase oito meses... Por que agora? Não me arrependo de ter te acompanhado naqueles lugares cheios de gente, de ter virados noites em bares e ido trabalhar cansado no dia seguinte. Eu iria aonde você fosse. Você talvez não percebia, mas eu não gostava. A bebida alcoólica que você trazia na mesa e eu bebia, aquilo era renúncia. Cada gota que descia pela minha garganta. E eu renunciaria para sempre. Mas qual o sentido de continuar se só um se doa? Até hoje, você nem tentou sentar comigo no sofá depois do jantar e assistir um daqueles milhares de filmes que eu alugo todo final de semana. Fui tonto, isso não devia ter chegado tão longe, mas a gente sempre tem esperança, não tem? De que as coisas - naturalmente - acabem mudando, e quem sabe se transformando naquilo que a gente esperasse que fosse. Porque no início, eu te juro, eu cheguei a pensar por uma fração de segundos, que tu fosses a pessoa certa. Droga, eu me engano tanto com as pessoas. O mínimo que eu espero parece uma exigência absurda. Cobrar sinceridade parece insano. E eu não quero mais te atrasar, me atrasar. Lá fora, alguém busca por ti. E tu vai encontrar alguém que goste de te acompanhar nos bares todas as quintas, que goste de ir trabalhar cansado no dia seguinte. E essa pessoa vai odiar filmes, vai te acompanhar até a sacada do teu apartamento e dividir uma carteira de cigarro contigo. Lá fora. Aqui dentro não. Aqui dentro, eu, me despeço e despedaço, por que não? A vontade que eu tenho é a de rasgar essa carta e começar tudo de novo. E eu vou começar tudo de novo, mas não com você.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Não nasci para ser filho da puta.

O errado sou eu que adiciono sentimento em tudo. Que amo sem ser correspondido. Que dou presente sem estar namorando. Que aposto tudo que eu tenho sem o menor conhecimento de caso. Eu é que deveria mudar. Deixar de ser caseiro, trocar os filmes franceses por baladas, os relacionamentos sérios por casos de uma noite, os livros por várias carteiras de cigarro. Eu é que devo me adequar, me alinhar, deixar de ser atrasado. O errado sou eu que procuro doação beneficente em casa de prostituta. Que afago os cabelos, para meia hora depois ser traído, que peço sinceridade, enquanto o mundo só gosta de mentira. A língua leve, afiada, como se tivessem nascido para isso. Eu é que devo deixar de ser ingênuo, desacreditar totalmente nas pessoas, nas palavras que saem de suas bocas, nas promessas batidas, nos beijos demorados. Hoje em dia, nada consegue me soar verdadeiro. Acho sempre que há um interesse por trás de um abraço. Um fingimento nas beiradas de um “sinto sua falta”. Eu é que deveria me entregar sem esperar nada. Recusar ligações, mentir sobre o que eu sinto, engatar um relacionamento que eu sei que não vai ter futuro, e mesmo assim dar início, só para depois pedir um tempo e ver o outro lá parado sem saber o que dizer. Eu deveria amar muito nos olhos, e por dentro não sentir porra nenhuma. Dizer que vou estar ali sempre, e uma semana depois, sumir sem deixar rastro. Eu é que deveria ser filho da puta, mas acabei escolhendo o caminho errado.

domingo, 23 de setembro de 2012

O mal do ser humano.

O mal do ser humano são os sentimentos engasgados. São as palavras que não saem de jeito nenhum, mas que querem ser empurradas boca a fora, precisam ser despejadas. O ser humano é medroso. Tem medo das consequências da exposição do que sente, preferindo manter o silêncio, preferindo viver a mercê de si mesmo, traindo-se diariamente. Muitos andam nas pontas dos pés, com medo do gelo maciço quebrar e toda aquela pose de ceticismo ir por água abaixo, literalmente. Não há liberdade sem expressão. Me admira tanto a maioria querer ser livre, ter o direito de falar o que pensa, mas se na hora de fazer o mais simples, se encovarda, se algema. Eu mesmo compartilho desse mal de dar voltas e mais voltas ao invés de seguir em linha reta, ir direto ao ponto. Eu mesmo me coloco regras, imposições. Eu mesmo crio armadilhas no caminho, tentando capturar as palavras que ainda não foram ditas, tentando recolhê-las, distorcê-las, ´não, você entendeu errado`. Mentira. Faço isso para encobertar a verdade. Para que você pense que é outra coisa, mas não é. Faço isso enrolando a língua, para que você pense que é culpa da bebida. Ou então, digo enquanto você me passa o azeite na mesa do jantar. ´Saiu sem querer`. Mentira. Não existe essa de sair sem querer, de brincadeira sem fundo de verdade, de porta batida com força por descuido. Não existe essa de tapa na cara involuntário. Não existe meio termo. Ou é, ou não é. Amar pela metade é nada. Abraço sem beijo na boca é amizade. E sexo sem vontade é desperdício de tempo. Abre esse coração, põe pra fora. A vida só é uma, não existe renovação de contrato.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ainda assim.

Se você soubesse que eu rasgo cartas sem ler, me desejaria coisas boas no meu aniversário? Se você soubesse que eu tomo pirulito de criança, coloco a minha culpa nas costas de outra pessoa e escondo dinheiro embaixo da cama, ainda assim, você diria que eu mereço só o que for bom? Se você soubesse que eu atravesso a rua para evitar pessoas, não respondo o bom dia do porteiro e passo sem dar atenção para a moça da limpeza, ainda assim, você diria que eu estou propenso a ser feliz? Diria? Se você soubesse que eu não respeito as leis de trânsito, o código de ética e não levo desaforo pra casa, ainda assim, você me deixaria concorrer a presidente da república? Sim, sim, sim e sim. Quase nunca vemos o que está abaixo da casca, só a ponta do iceberg. A profundidade de alguém pouco importa, não vale nada. Ninguém quer saber dos teus desejos de criança, das tuas quedas com nove anos de idade, dos teus primeiros amores fracassados, dos presentes que você deu com tanto amor e que - quase que naturalmente - permanecem até hoje sem um "obrigado". Não deveria ser assim, você diz. Toma café, come uma bolacha, não deveria ser assim, preciso mudar. Troca de roupa, penteia o cabelo, não deveria ser assim, mas, agora eu ando tão sem tempo, tão sem tempo, tão sem tempo, quem sabe uma outra hora... quem sabe.

sábado, 15 de setembro de 2012

Telefone ocupado.

Ler e escrever são minhas válvulas de escape, quando o resto do mundo parece está fazendo o de sempre: se preocupando com si mesmo. Telefones ocupados, fora do gancho, desligados, nenhum santo disponível para ouvir a sua reza. Dúvidas borbulhando em água fervente, e não há uma só alma para desligar a panela. Mesmo que sem opinião nenhuma a respeito, só mesmo para que você se ouvisse e pudesse questionar tudo aquilo que sai da própria boca, indo direto aos próprios ouvidos. O cérebro reagiria, buscaria respostas, respostas sensatas, loucas, outras não tão maduras assim. Mas o ciclo nem se inicia. Fica tudo ali, dentro da cabeça, rodando, rodando, sem nenhum lugar para se esvair, como um rio que não sabe onde desaguar. E a história não se repete? Pensando bem, sempre foi assim. E longe de mim estar aqui querendo me fazer de vítima, ou lamentando qualquer coisa que seja. É que - às vezes - é bom ouvir uma outra opinião que não a sua. Desabafar, contar tudo. Desde as histórias bobas até as mais complexas. Mas o ser humano nunca está inteiramente disponível. Há sempre uma outra conversa, uma outra pessoa, um compromisso inadiável, um celular que não pára de tocar, uma campainha barulhenta. Ninguém dispõe mais de tempo para ouvir ninguém. Puxa, quem diria que em um mundo onde a tecnologia te faz falar com os quatro cantos do mundo, um ouvinte faria tanta falta?

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Se abrir ou deixar pra lá?

Abrir o bico ou deixar a correnteza seguir o percurso sem remar? Dizer para uma pessoa que você está gostando dela é como tentar jogar na mega sena: você parte com o "dessa vez não deu" e pode voltar com um "porra, fiquei rico". O problema de apostar em alguém é que quando você faz isso, automaticamente expectativas começam a percorrer todas as veias. E expectativas frustradas viram feridas abertas. E feridas abertas só se fecham quando bem entendem, você acha que possui poder sobre elas, mas na hora do vamo vê é tudo história pra boi dormir. Você entra no carro e não sabe se dá a partida, se vai até a pessoa, coloca ela contra a parede, e dispara tudo, alivia o coração, finalmente. ou, se fica calado, quieto, esperando o destino fazer o que bem entender com a sua própria vida. Pode-se arriscar perder tudo ao fechar a boca, e pode-se arriscar a perder o que já tem abrindo-a. O que fazer? Em casos assim, sinais não surgem para te ajudar, geralmente, as coisas se tornam é cada vez mais enigmáticas, deixando você cada vez mais e mais confuso, ao invés de ajudar. Se der certo? E se der errado? Isso pode te deixar doido, é sério. E vão me criticar, vão dizer que é falta de amor próprio. não é, não tem nada a ver. Eu sei que o mundo não anda mais tão romantizado quanto já foi um dia, que as pessoas estranham quando ganham flores no trabalho. Eu não quero você pra me completar, pra ser a outra banda da metade de uma laranja. Eu quero você porque você me faz bem, e pronto. O que eu sei é que eu não devia deixar você ir embora assim, como se pessoas fossem copos de plástico que a gente usa e depois pega outro em cima do bebedouro, não, você é taça, você quebra se cair e não pode ser substituída mesmo que comprem uma idêntica. Você é vinho, daqueles bem caros. Carro importado. Suíte presidencial. É o que eu vejo: cara, você é especial.  Quero passar contigo o calor mais intenso da tua vida, o frio mais severo. Assistir as folhas caírem no outono, e voltarem ainda mais belas na primavera. Quero sair mais cedo que você e te deixar dormindo, deixar um recado em cima do criado-mudo: saí mais cedo, não quis te acordar, deixei café pronto na cozinha. Quero discutir, e depois fazer as pazes na cama. Quero te ver - se for inevitável - chorar, e poder estar lá para oferecer meu ombro, ou uma água com açúcar, ou te dar minha mão, ou ficar lá com você sem dizer nada. Quero me despedir de você na porta, te ver sair para encontrar os amigos e ver tv despreocupado, sozinho na sala, por que não? Você está lá fora, sem mim, mas me ama, e é isso que importa. Não quero ser gaiola, porque você não é pássaro. Quero te ver livre, sempre livre. Quero que você esteja comigo não porque eu te completo, mas porque a minha companhia mais a tua é valor dobrado. Eu só queria duas coisas: que você fosse feliz e que eu estivesse lá para poder compartilhar dessa felicidade com você. Eu sei, a gente se acostuma a viver só, mas não precisa ser assim... precisa?

domingo, 2 de setembro de 2012

Ainda nem desfiz a tua cama.

Temos uma semana para nos entrelaçarmos e nos desentrelaçarmos tão rápido quanto começamos. Lidar com o início e o fim prontos de uma história é um tanto quanto angustiante. Dar a vida a esse meio me deixa ansioso, porque o tempo é curto e a vontade de te abraçar toda hora é tanta, que extrapola o normal. O cuidado em não romantizar tudo, e tratar tudo racionalmente é outro ponto complicado. Eu sei, eu sei, histórias assim não foram feitas para ter continuação, e nem foi feita para ser vivida por alguém tão irracional quanto eu. O seu boné ainda permanece aqui entre os meus pertences, sua cama ainda desarrumada de hoje à tarde, nossas lembranças impregnadas em cada dobra do lençol, em cada amassado do travesseiro: o seu cheiro, por todos os lados. Viver isso tudo por uma semana é uma baita injustiça, e mesmo assim um presente. Nos encaixarmos tão bem dificulta tudo, e mesmo assim é uma delícia. Esses e outros vários momentos vão ecoar por tanto tempo, que eu nem sei mais se quero ter que arrumar a sua cama de novo. Resumindo todas essas palavras fajutas em poucas linhas, eu só queria uma coisa: dormir bem e dormir pouco ao seu lado todo santo dia. 

sábado, 18 de agosto de 2012

Me respeite, eu sou um selenita.

Planando, vivendo na ponta dos pés. Cabeça na lua, projeções. Girafas, elefantes, nós dois: apenas nuvens. Se quiseres um pedaço do meu céu, vai ser preciso mais que um guarda-chuva para se proteger de um temporal. Se quiseres conviver com meu mel, vai ser preciso acostumar-se a meu fel. Se quiseres ser o centro da minha terra, corra, Lola, corra, o tempo está passando. Os ponteiros são rápidos, não perdoam, podem te transportar daqui em um piscar de olhos. Se quiseres que eu seja teu Picasso, vai ser preciso mais do que um desenho a óleo. Quero tinta guache, caneta, carvão, lápis de cor. Quero estampar toda a parede do teu quarto, do teu peito, vísceras, coração. Quero ser teu quadro que vale milhões. Nosso amor vai ser visitado, vai estrear em uma grande galeria no centro da cidade. Tinta azul no seu nariz, me aproximo e retiro com a ponta dos dedos. Quem dera fosse assim com a tristeza. Espanar para longe como se fosse poeira. Mas ela é cola, é glitter, impregna, causa infecção, destrói o sistema imunológico. Você está correndo? Não, não há tempo a ser perdido. Atravessa logo essa rua sem olhar para os dois lados, ninguém vive sem correr riscos. O sinal está verde, passa, passa enquanto eu estou aqui esperando, porque depois, ah, sinais vermelhos não voltam no tempo, comigo não tem segunda chance. Faltam poucos minutos, as portas estão quase de fechando. Quando tempo você vai me deixar na intermediação? Entre o sim e o não, entre a guerra e a salvação. Sai, sai de cima do muro que eu tenho um presente: o meu amor. E se você se desfizer dele como faz com as cartas que te escrevo, pode bater a porta e deixar a cópia da chave na mesa. Eu não preciso mais de amores fingidos, promessas batidas, lixo reciclado, palavras forçadas. Eu tenho tudo o que eu preciso bem aqui comigo: a esperança que chega com o dia de amanhã.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Todas as cores.

 Toda mentira é uma sombra. Toda verdade é uma santa. Todo desejo se esconde, na pele, embaixo dos escombros. Toda saudade machuca. Toda dor, um dia, evapora. Toda esperança é uma pistola, às vezes, sem nenhuma bala. De antemão, te aviso: sou o todo. De nada adianta o teu corpo, se o pensamento é em outro. De nada adianta o teu choro, se não é minha camiseta que encharca. De nada adianta as tuas palavras, se no meio do caminho elas são atropeladas. De antemão, te aviso: eu não me dou por vencido. Se eu fraquejo, caio de joelhos, é estratégia de jogo. Se eu não abro a porta quando você chega, é pra nos poupar de uma batalha. Se eu não te encontro às cinco, é porque já estou exausto: de ser esquecido. Deixa o rio secar, os peixes morrerem, a natureza esbravejar. Piso nas folhas secas, nos nossos últimos beijos. Piso no que restou de tudo que vivemos, nos últimos - e poucos - momentos. Piso nas fotos e esfrego com a sola do sapato. Fico de cócoras, cato os pedaços: não, não ficariam bem remendadas em um retrato.

domingo, 12 de agosto de 2012

Não existe dia dos pais.

Coloca no colo, no berço, empurra a bicicleta com rodinhas e depois sem. Coloca a roupinha quando a mãe se ausenta, leva pro clube, dá banho, compra salgado na padaria da esquina. Educa, alimenta, se esforça para estar sempre por perto. Dá o último centavo que tem no bolso pra você inteirar o picolé, gasta o salário inteiro naquele videogame caro, passa fome se for preciso, mas se você está sorrindo, ele sorri também. Se existe alguém que pode completar a gente, esse alguém é o nosso pai.

Foto de Michael (pai) e Vibe (filha), garotinha que morreu ainda criança devido um tumor.

Mãe que faz papel de pai, ou irmão, ou os avós, tios, não importa, quem te atura na adolescência é que merece seu abraço todo santo dia. A gente se conhece mesmo quando não troca uma palavra, um aperto de mão ou um abraço é suficiente, porque amor de pai ampara. Pai é aquele amigo que você decepciona várias vezes mas nunca te vira as costas, e sendo assim, é provavelmente a única pessoa que vai estar com você sempre. Vejo muita gente gastando rios de dinheiro, e eu mesmo gostaria de poder comprar o mundo, enfeitar com um lanço e dar pro meu pai, por que não? Ele me deu a vida, é o mínimo que eu poderia oferecer em agradecimento. Infelizmente não possuo uma conta bancária gorda, mas diferente de um estranho, um pai não liga se você dá meias novas ou um carro, o que importa é o "obrigado por tudo, eu te amo", é passar algumas horas juntos. Dia dos pais é ontem, hoje e amanhã. Para quem já perdeu o pai, essa data dói. Enquanto uns festejam, outros choram pela perda. Então, fica o conselho: passe o máximo de tempo possível que você puder com o seu velho enquanto ele existe aqui no presente, porque o futuro... a gente conhece bem, o futuro é incerto.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Bebi a última gota.

Não minto: fere, feriu, estava ferindo, cicatrizou, a ferida voltou a doer, estanquei, dormi e tudo ficou bem. É um processo, um ciclo, tão natural quanto o bater das asas de uma borboleta. E eu precisava chorar, enraivecer, te ligar de madrugada, me humilhar, pedir pra você voltar, enviar cartas, dedicar poemas, alfinetar. Eu precisava ir até o fim da linha, do poço, achar que não existia vida após você. Eu precisava deitar nos trilhos, desistir, achar que esquecia quando na verdade queria beber ainda mais de ti. Com pena ou devido um sentimento incessante de culpa, você me alimentava a conta gotas. Com medo de ficar só, eu cedia. No desespero a gente não enxerga a insuficiência, perde o valor de si mesmo, se maltrata, invalida: fica a preço de banana. Até que a visão vai ficando mais clara, menos turva. A respiração fica menos ofegante, estabiliza, nada de suor nas mãos ou pernas bambas: o coração não acelera mais. O tempo passou, vai passando, eu vou melhorando, esquecendo de vez, tomando outro rumo, provando de outras bebidas. Você? Ah, você não me desce mais, sinto muito: o gosto que adoçava minha boca, agora amargou.


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Me ensina a sambar?

Chegou de mansinho, pôs a mão na minha cintura e começamos a rodar. E samba assim juntinho é? Eu pensei. Rodamos no meio do palco, no meio da rua, no meio da sala, no meio do quarto: entre quatro paredes vale tudo. Vale arranhão sem pudor, cambalhota e gargalhada, por que não? Sexo é despretensão, é arrancar do corpo as dores do dia, é inventar histórias pra marca no pescoço, é despir o outro lentamente, ferozmente, não importa: sexo é diversão. Mas e aí, vai me ensinar a sambar? Coloquei o meu pé sobre o outro pé, mão em volta do pescoço, olho no olho, pôs a mão na minha cintura e começamos a ensaiar. Juntinho? Isso é valsa, eu pensei. Dois pra lá, dois pra cá. Eu virava um copo de uísque e tu de refrigerante. Um medo de amar que doía o peito. Falou pra eu não me preocupar. E eu sentia uma segurança, tanta segurança que largava as mãos e fechava os olhos. Os pés não, esses ficavam fincados no chão. Querendo ou não, meu bem, a gente tem que arriscar, aceitar, dizer sim, confiar. A vida trata de ensinar de forma dura quem não sabe nadar. Olhava de forma doce, sua mão macia acariciava meu rosto. Não sabia se fazia parte da coreografia, ou se eu deveria pedir pra parar. Parar nunca, parar jamais, de hoje em diante eu só sigo em frente, só volto se for pra avançar um pouco mais. Só vou amar se for de corpo e alma, até o meu último fio de cabelo: Hein, mas e aí, me ensina a sambar?

sábado, 4 de agosto de 2012

Estupinópolis

O céu cinza e promessa de chuva marcam esta manhã em Estupinópolis. 


- Mário! Mário!
- O que foi? - Respondeu ele levantando levemente os olhos sobre a tela do computador.
- Sai desse computador, parece que vai chover, olha o céu.
- Não Ana, eu tenho que terminar de olhar meus e-mails.
- Não estou vendo nada em negrito aí, você já leu todos.
- Mas estou esperando a resposta de um.
- Bobagem, anda logo. Olha, os primeiros pingos estão caindo.
- Ahn... - Disse ele sem o menor interesse.
- Que bonito que é ver a chuva caindo. Antigamente essa hora a rua estava cheia de
jovens, andando descalços, correndo risco de pisar em caco de vidro...
- Hoje em dia preferimos ficar aqui, sem correr risco algum.
- É... a vida já foi melhor quando não existia tecnologia.
- A tecnologia veio para fazer o mundo avançar, sair da mesmice. Não diga besteira, Ana.
- Ah Mário... esse seu computadorzinho nunca irá fazer chover. Arco-íris só mesmo
se for fundo de tela. Eu vou lá fora, não quero ser como você.
- Vai vai - disse balançando as mãos - e me deixe em paz.

Ana saiu pelas ruas, pousando de biqueira em biqueira, cada qual com uma intensidade distinta de jato d'água. Não havia ninguém na rua. Imaginou que estivessem todos "aproveitando" para dormir ou qualquer coisa que as prendessem a atenção enquanto a melhor diversão acontecia do lado de fora. É sempre assim, as pessoas esquecem de aproveitar essas pequenas coisas. Sempre querem mais, sempre acham a novidade mais interessante e no fim, terminam frustradas, pensou ela. Enquanto voltava, começou a se sentir um pouco fraca e começou a espirrar.

- Mário! Mário! Abre a porta!
- Calma, já vai...

Ana entrou e pediu que ele fizesse um chá.

- Você está resfriada?
- Sim, culpa da chuva que acabei de tomar.
- Por isso que as pessoas não tomam banho de chuva, mocinha.
- Isso é consequência de se optar por viver, mocinho. - respondeu com desdém.
- Dispenso.
- Atchim! E mais, as pessoas não tomam mais banho de chuva porque estão submersas em uma estupidez eminente.


quarta-feira, 25 de julho de 2012

O caso do precipício precipitado de vinte minutos.

Como uma estrela cadente que não é vista todo santo dia, Ana foi chamada para sair. As nuvens negras lá em cima indicavam um possível chuvisco, ou dilúvio quem sabe. Mesmo assim, ela pegou o capacete, deu a partida na moto e foi em direção ao local combinado. Vinte minutos depois ela havia chegado no seu destino. Entre alguns risos forçados, ela mantinha seu olhar fixo na pintura que decorava o quarto, enquanto ele não parava de olhar o movimento lá fora.

1) Não havia química.

Ana se sentia incomodada, com uma vontade de sair que ia dos pés a cabeça, fazendo seus lábios secarem de cinco em cinco segundos. Decidiu quebrar o gelo: você poderia me trazer um copo d'água? Ela não sabia que haveria de quebrar outras coisas naquela tarde insossa, com gosto de "já tô cheia, obrigado". Já deitada na cama, ela não parava de contar os furos da má pintura que era exibida no teto. Perguntou: há quanto tempo? Mais de quatro meses, ele respondeu.

2) Não havia assunto.

Isso explicava tudo, ou não explicava nada. Ana não tinha um ponto de vista, só queria ir embora. A sensibilidade em excesso da moça não permitia que ela saísse assim. Foi muito rápido... ela começou a tentar encontrar uma explicação. Pulamos o "seja bem-vindo", os beijos, as carícias, os vinte minutos de conversa furada, as dezenas de horas em almoços e jantares. E pular etapas não é meu forte. Pular etapas, pra mim, é pecado.

3) Não havia começado do começo.

Sem dar atenção a ela, ele balbuciou com a voz baixa: e tudo isso por que eu fui rápido? Discurso de gente boba, ele deve ter pensado, embora não tenha dito. Discurso que Ana fazia questão de deixar claro, mas há sempre uma visão distorcida. Enquanto chacoalhava o palheiro, nada caía, nenhuma gota de lágrima. Ela bateu a porta e foi embora, antes que fosse empurrada de mais um precipício. Não iria se desfazer de suas regras. Não por alguém que sequer tenha chegado perto de ser a agulha que ela esperava.

Caso encerrado.

Feliz dia do "Droga, cadê o papel e a caneta?"

Minha inspiração fez viagem sem volta, botou o pé na estrada, chutou o pau da barraca, foi sambar na lapa, não sei onde ela foi parar, desculpa, não sei. Justamente quando caminhava pela cidade, exatamente às nove horas da noite, me veio um conto inédito em frame e eu não tinha papel nem caneta por perto. Memória péssima, não gravei nada. Lembrei do dia em que eu fiquei preso em um texto sobre as minhas férias. Eu não havia viajado, não havia feito nada além de três coisas: comer, ver tv e dormir. Não passei da primeira linha, a exigência era no mínimo vinte. Entrei em estado completo de cólera, aflição. Estávamos eu, a folha de caderno, o lápis e ninguém sabia para onde ir exatamente. Eu: triste por não ter feito valer a pena meus trinta dias de ausência dos livros de química. A folha de caderno: mais intacta que a virgem maria. O lápis: rabiscando qualquer desenho fajuto, esquisito. Decidi ir no dia seguinte com a folha em branco. Estava prestes a receber um zero, quando lembrei de uma história que vi na TV. Troquei os personagens, sujeitos, advérbios de tempo e em poucos segundos transformei meus trinta dias de apatia, em algumas horas de entretenimento. A história não era minha e ninguém sabia, ou veio a saber até hoje. E quem nos lê sempre acha que tem sangue nosso respingando em alguma palavra, ora suja, ora santa. Só quem escreve sabe como dói. Só quem se coloca horas e horas diante de uma folha, sabe como é enlouquecer em ponto morto.  Não adianta forçar as idéias, a inspiração só surge quando a gente aparenta uma conformidade mórbida.

[25 de Julho, dia do escritor.]

domingo, 15 de julho de 2012

Viver mais que ontem.


Enquanto você se preocupa excessivamente com os problemas, a vida corre. Corre e não dá passos para trás. E nem pára. A vida nunca pára. Problemão. Dias curtos. Trabalho, faculdade, buscar filho na escola, um beijo na esposa, almoçar, tomar café-da-manhã, jantar, pagar contas e ainda fazer uma hora de esteira na academia. Haja fôlego. Sensação de que vou precisar de uma outra vida. Adicional. Essa não é suficiente. Que loucura. E ainda tem pessoas que conseguem adicionar nesse bolo de atividades: planejar um assalto, se vingar, falar da vida alheia, língua afiada, farpas saindo pelos dedos. Quanta coragem. Quanta burrice. E se um dia eu cair na mesmice, que me matem ou me joguem de um precipício. Que a rotina caia em mim, se essa façanha ela conseguir. Quero - e trabalho nisso constatemente - poder viver sentimentos novos todo santo dia. Sem nome, sem definição exata. Apenas um sorriso bobo e eu entrejo os pontos. Sensações estranhas, embrulhos no estômago, arrepios na nuca. Deveríamos mesmo era ia atrás de viver um pouco mais. E esquecer as desavenças, os problemas, as vaidades. Enlouquecer, observar, digerir com calma. Amar, receber carinhos sem fim, e amar mais um cadinho se der. Na medida certa, no momento oportuno. E se deixar crescer um pouco a cada dia. Através dos erros, das desculpas esfarrapadas, dos tiros que saem pela culatra. Viver é correr todo dia atrás de uma felicidade que não está nem aí para ser encontrada. E não está nem aí, nem aqui, nem escondida em lugar nenhum. Viver é felicidade, e felicidade é ver você aí tomando esse chá com cara de sono. Putz, se eu soubesse que a vida seria curta, eu teria vivido bem mais que ontem. Calma aí moço, ainda temos tempo de virar o jogo.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pessoas rasas e pessoas fundas.

Nos domingos não fujo a regra: calorias provenientes de porcarias, filmes e corpo quase adormecido na cama. Mas quando se precisa escrever alguma coisa, dificilmente alguma história irá adentrar o portão da minha casa, bater na porta e percorrer facilmente pelos meus dedos. Aproveitei o ensejo de ser – praticamente – obrigado a ir a um aniversário, para tentar colher alguma coisa, pescar qualquer trecho de conversa, acontecimento que fizesse o meu cérebro criativo voltar a funcionar. Para o meu deleite, o lugar era melhor que a encomenda: piscina, campo de futebol, grama e árvores por todos os lados. Li um capítulo do livro Um dia [David Nicholls], que é atualmente meu livro de cabeceira, e resolvi botar um short (visto que esqueci a sunga) e cair na piscina. Meia hora depois de nadar, sentei na borda e comecei a observar as pessoas, e também, a própria piscina. Ela, assim como os seres humanos, está dividida em duas partes: rasa e funda. Rasa: para os desacreditados, inexperientes, com pouca ambição. Funda: para os otimistas, tímidos e de altura mais avançada. Bobeira, quem sabe nadar fica na parte funda e quem não sabe – ou não consegue tocar o pé no chão – fica na parte rasa. A verdade – e agora, deixando minha criatividade ultrapassar o palpável – é que há muitas pessoas adultas que nadam na parte rasa da piscina da vida. Não arriscam com medo de se afogar. Alimentam um medo monstruoso de molhar o cabelo, de não conseguir tirar a água do ouvido ou agüentar a ardência dos olhos. E existem aquelas pessoas que simplesmente saltam na água sem saber nadar. Morrem afogadas, quando não, clamam por respiração boca a boca. Às vezes se salvam, às vezes não. Assim como nossas branduras e perversidades se misturam para formar nossa personalidade, precisamos saber à hora de sermos rasos, e a hora de sermos fundos. Não dá para ser apenas uma coisa ou outra. Tudo vai depender do momento. É ele quem determina qual é o nosso próximo passo. Mas cuidado, depois de uma decisão tomada e corpo molhado, na vida – diferentemente de uma piscina – não existe escadinha na borda. Para toda ação há uma conseqüência.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O homem frígido.

Desde que eu me entendo por gente, que eu tenho consciência de que o sexo lidera uma importante parcela de culpa quanto à felicidade de um casal, independente de gênero ou qualquer outra particularidade. Em uma sociedade assim, chegar a conclusão de que há a possibilidade de ser um homem frígido, soa extremamente assustadora. O homem frígido não faz amor, nem sexo. O homem frígido só faz uma coisa na cama: nada. Às vezes, tampouco fica a vontade. Quem fica com a tarefa de guiar é o outro. Certo, existem pessoas que se definem como dominadoras na cama, mas carregar um pedaço de gelo no colo é totalmente diferente de ter poder sobre a outra pessoa. O homem frígido – e deixo bem claro que esse texto também vale para as mulheres frígidas – não quer estar ali. Enquanto solta algumas poucas palavras ensaiadas, a mente voa longe da cama. Um verdadeiro, e literalmente, artista. Mas, ao contrário do que muitos possam achar, eu não acredito que isso seja uma característica, detalhe impregnado na personalidade. Eu acredito em escolhas erradas. Sexo casual com alguém não tão conhecido é algo que pode resultar em mãos e pés atados na cama. Daí você me pergunta: Se o cara não vai se entregar, por que aceitar um convite para uma noitada e nada mais? Coração, meus caros, coração. Quando gostamos de alguém, a razão é rouca. Nunca fui muito fã de desordem, sexo antes do casamento (tão comum nos dias de hoje). Nunca acreditei em lençóis amassados antes do primeiro beijo. O café na cama depois de um sono pesado, esse sim deve prolongar as coisas. Café na cama de um motel, depois de um sexo rápido, é fantasia, coisa de momento. Mas a ingenuidade é irmã do coração esperançoso. Ambas acreditam na ascenção do outro. Ambas acreditam no certo escrito por linhas tortas. E por mais sentimento que exista, na cama não sai nada. Amor sem interesse é o mesmo que comprar um bolo de banana porque o de chocolate acabou: não satisfaz, mas mesmo assim você vai lá e dá uma mordida porque acha que no final das contas não irá fazer diferença, ou que – inexplicavelmente – talvez seja mais saboroso. Pior: achando que você se enganará tão bem que enganará o outro. A constatação da frigidez é inevitável. O toque da boca quente na perna fria entrega o jogo. Assim mesmo, rápido, sem necessidade de pistas, assassino localizado. O motivo? O motivo nem tanto, é uma incógnita. Defendo o frígido porque já fui chamado de um. Não por quem dormiu comigo, mas sim por estranhos. Na palavra deles: eu tenho a feição de quem não pula do precipício. Feição de quem fica sempre na beirada do trampolim, com medo de pular, se entregar. Defendo o homem frígido porque – no meu caso – ele não existe. Não é frigidez ou preguiça, é saber a hora de desistir. É acreditar que uma saída casual possa virar um relacionamento formal. Depois dos primeiros arranhões nas costas, mordida nos lábios, corpo jogado ferozmente sobre a cama, a razão começa a tomar frente de tudo e a conclusão é só uma: merda, daqui só vai sair gemidos e saliva trocada. Corpo esfriando, jogo perdido, mãos colocadas em bolsos de uma calça imaginária, desistência involuntária: não quero só calorias jogadas fora. O outro perdendo tempo, diminuindo a velocidade dos atos, menos beijos, menos carinho, menos mão na coxa: frígido, ele pensa. Posso ser pedra de gelo ou água fervente: cada um terá de mim aquilo que merece.

sábado, 30 de junho de 2012

A culpa é sua por estar sozinho.


Passa o dia reclamando no meu ouvido que não tem ninguém, que não aguenta mais ficar sozinho, que não entende porque ninguém quer algo sério com ele. Eu, que vejo de longe, diria que ninguém quer ele nem pra sexo, quanto mais pra um relacionamento sério. Claro, nunca diria isso, são coisas que morrem no pensamento. A verdade é que a culpa dessa solidão toda, é dele mesmo. É o tipo de pessoa que tem carro, dinheiro e beleza, e no mundo interesseiro - onde bens materiais valem mais que qualquer coisa - que vivemos, é inevitável vermos alguém assim solteiro sem nos questionarmos: por que ele está sozinho? Com todos esses atributos, nem que fosse por interesse - que óbvio, deixo claro que eu abomino gente interesseira - alguém estaria com ele. Depois que eu parei para pensar um pouco melhor, descobri que ninguém conseguia ficar muito tempo próximo dele. De dez pessoas que saíram com ele: cinco disseram que ele só falava asneira, três não paravam de olhar para o relógio e as outras duas cancelaram o encontro porque ele não parava de mandar sms perguntando coisas do tipo "por que você ainda não foi se arrumar? estou te vendo online no chat do facebook". Como se isso não bastasse, a criatura é insegura. Sou gordo demais, sou feio demais, meu rosto é quadrado demais, essa calça não combina comigo, entre outros. Como se isso também não bastasse, a pessoa é mais séria que padre rezando missa. Não acha nada engraçado e não dá uma pausa no assunto sobre a política mundial para falar algo mais informal. O cara é um verdadeiro porre de cerveja quente. Sair com ele por uma noite, é a receita infalível para acordar no outro dia com a cara no vaso sanitário, colocando cada momento da conversa pra fora. Já do outro lado da rua, existem pessoas que não tem culpa  por estarem sozinhas, mas sobre isso eu falo outra hora. Agora deixa eu voltar pra mesa antes que eu receba algum sms desesperado.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Guarda-chuva.




Me relacionar com você foi como aprender a andar de bicicleta. Nos primeiros meses: as rodinhas. Você segurando meu banco com uma das mãos, dizendo está tudo bem, se você cair eu te seguro. Cinco meses depois, você já me dava confiança suficiente para tirar as rodinhas, e até arriscar andar sem uma das mãos. Velocidade máxima, sem medo algum de cair no asfalto e ralar todo o corpo. E todo dia eu inventava uma manobra diferente, uma maneira de te surpreender quase que todos os dias. Até que você foi ficando nem aí. Nem aí para minhas habilidades, nem aí para os meus jantares, nem aí para os meus cafunés antes de dormir, nem aí pra nada. De repente, me vi com medo de descer uma ladeira. De repente, eu não sabia mais se, caso eu caísse, você estaria lá para me salvar de uma queda, de machucar as costas, de ralar o joelho. Hoje, vindo para a faculdade, esqueci meu guarda-chuva de propósito, sabia que você levava um consigo na mochila e esperava que as coisas mudassem depois que você me sentisse mais próximo, minha mão direita e a sua esquerda, quase que uma por cima da outra. Como se segurássemos nosso relacionamento, impedindo a água de entrar e acabar com tudo: com os planos futuros, com o que ainda restava de amor, que pelo menos da minha parte ainda persistia em existir. Você começou a tentar explicar de várias formas que não gostava mais de mim, tentando fazer com que eu entendesse da melhor maneira possível que a culpa não era minha e nem sua, ou da outra pessoa que você conheceu dias atrás.

Você dizia que era normal, que as coisas acabam,
que chega um dia que simplesmente chove e a
chuva acaba levando tudo.
Eu gritando, revidava: 
A chuva só leva terra que é fraca,
casa que não está bem fincada.

E completava logo em seguida, antes que você me interrompesse: demora um certo tempo até as nuvens ficarem cinzas, uma chuva torrencial dessas não cai de uma hora para outra. Então, um pingo driblou a proteção - não sei bem ao certo se era pingo ou lágrima - e molhou o meu rosto. Foi quando eu desisti. Foi quando eu preferi parar de discutir. Foi quando eu pulei da bicicleta enquanto descia ladeira abaixo. Eu sabia que iria me esborrachar no chão, mas que seria melhor pular a ter que bater em cheio no muro. Você? Ah, você continuou. Eu fiquei. O corpo todo molhado, esgotado. A alma toda encharcada, dilaceradaComo sempre, em toda história de amor que eu me meto: sou sempre a parte que termina ensopada.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O hétero água e o homossexual azeite.


          Existe um preconceito contra os homossexuais por parte da sociedade, isso é indiscutível. Mas existe um tipo de homossexual que se coloca acima dos demais a sua volta, e este eu costumo chamar de: o homossexual azeite. Imagine que a água são os héteros e pronto. Compreenderam? O homossexual azeite não se mistura, se auto coloca de lado, se exclui, porque acha que o gosto dele é sempre melhor e mais refinado. Não curte música sertaneja, só bebe absolut com energético, e quando está em uma roda onde existem alguns héteros, sempre faz questão de criticar alguma coisa dizendo: isso é coisa de hétero. O homossexual azeite separa tudo em caixas. Preferências do mundo hétero e preferências do mundo gay.
          Para ele, não é permitido gostar de nada do mundo distinto. Para ele, não é permitido ter muitos amigos que não sejam do seu próprio círculo de orientação sexual igual. E mesmo que você seja gay, um homossexual azeite vai te criticar se você resolver aparecer em uma festa usando blusa social, porque blusa social é coisa de hétero. Se você preferir futebol ao invés de vôlei, sai de perto. A última coisa que ele vai fazer é acreditar em você. Provavelmente vai falar que é só para manter aparências, que no fundo, no fundo, a sua vontade mesmo era de sacar a bola, e não chutar. O homossexual azeite é desprezível, e ao contrário do óleo que conhecemos, não possui nada, nada de bom. Não faz bem a saúde, não fica bem na salada, e se misturado junto com o hétero água, ele vai sempre achar que está por cima.

domingo, 24 de junho de 2012

Procura-se por pessoas inteiras...


Procura-se por pessoas de carne, osso, ombro, pescoço e coração aberto. Procura-se por pessoas destemidas, dispostas a correr riscos, a dar o coração na mão de estranhos. Dispenso pessoas com peças em manutenção, beiradas roídas, amor dividido, transbordando em dúvidas e incertezas. Não quero sobras, ninguém vive delas. Eu quero o show inteiro, toda a atenção, menos do que isso devia ser crime. A verdade é que já não se encontra mais pessoas inteiras. É cada vez mais comum encontrarmos pessoas vivendo uma vida pelo meio, alguns sentimentos aqui, outros no passado. Se denominam sozinhas, livres, mas há sempre um motivo no antes que atrapalha o agora. É uma decepção amar tanto alguém, e descobrir apenas meses depois que há tanta coisa faltando, que há tanta coisa sendo feita preguiçosamente e dita de forma forçada, como se houvesse um roteiro escondido no banco de trás do carro ou colado no teto do quarto. Se não for pra sonhar junto comigo, ser pista de pouso, abraço no final do dia depois do trabalho, eu não aceito. Não me dedico por quem não tem coragem de ligar perguntando se eu estou bem, com vinte e dois já vivi mais do que muitos imaginam, sei o que eu quero e o que eu não quero. Procuro por pessoas inteiras: ou toca, ou não toca.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O "nada" é um problemão.

A: Por que você está triste?
B: Ah, não é nada.

O nada é o desconhecido, é a sombra que passa pela porta segundos antes de pegar no sono. É o não identificável. E o resultado disso tudo é assustador. Não saber de onde a tristeza vem é um problemão. A gente cura ressaca com coca-cola gelada ou um banho frio. Cura gripe com chá de alho e limão. Esconde feridas com band-aid. E dores anônimas, a gente cura como? Não se sabe de onde veio, por que veio, como veio. Não se sabe quando ela vai embora, quanto tempo fica, se é hóspede passageiro ou de tempo integral. Acordei com essa sensação de dor. Como se tudo por fora estivesse perfeitamente bem, mas por dentro as coisas não se alinhavam, coração bombeando sangue em direção  inversa, anormal. O pulmão respirando com dificuldade, com preguiça. Acordei com essa vontade de colo, com uma vontade incalculável de deitar a cabeça em um par de pernas e sentir uma mão ou duas passeando por entre meus cabelos. Sem que me perguntassem nada, sem que me perguntassem o por que de nada. Só sentindo a respiração tranquila tentando tranquilizar a minha respiração também, que agora já parecia um pouco mais normalizada. Quem sabe chorar as dores de amores passados, das vezes que bati com a cara na porta, das vezes que nem achei as tais "portas". Quem sabe chorar de um filme que vi há anos ou a ausência de amigos que já não vejo há tanto tempo. Dores que vem do nada são como um tiro no peito a queima roupa. Mas se engana quem acha que elas estão ali sem motivo nenhum. É justamente o contrário. Os motivos são vários, dezenas, milhares. E aí o fato de não sabermos identificá-la, sabermos exatamente do que se trata. São as decepções e as falhas, todas acumuladas, vindo de uma vez só. você começa a ver o jornal, e uma chacina que aconteceu lá na Suícia começa a fazer com que teus olhos encham de lágrimas. E você não sabe se está chorando pelos feridos da Suíça ou pelas próprias feridas, porque você não tem paciência para descobrir de onde essas dores estão vindo, você só quer que alguém apareça e te ofereça um lenço, uma bebida quente e um colo.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A última página do livro.

Enquanto andava pelo centro da cidade onde nascera, Clara - de cabelos curtos, negros e olhos grandes - identificou Caio a alguns metros de distância. Tentando dar meia volta, entrou na primeira loja para que um desencontro nada agrádável viesse a acontecer. Pensou consigo mesmo: que boba, por que eu não continuei andando e o cumprimentei? que boba, repetiu. Permaneceu agachada na loja de roupas, fingindo que procurava por uma saia, embora não gostasse de saias, e muito menos de parar em lojas no horário de almoço. Para o leitor que desconhece a história, Caio já teve um relacionamento com Clara de quatro meses, que acabou após a moça descobrir que o príncipe que veio em um corolla branco, não era tão límpido e casto como imaginava. Caio tinha um relacionamento paralelo de vários anos com outra garota, que se chamava Débora, sem que nem uma e nem a outra desconfiassem de nada. Perdidamente apaixonada, Clara ficou cega, embora toda essa história estivesse a um palmo do seu nariz. Mesmo depois do término do namoro, os dois se encontraram algumas vezes, e transaram outras tantas. Ela estava solteira, não tinha obrigação de ser fiel com ninguém, e há muito havia desistido de ser fiel consigo mesma. Caio nunca transparecia ter outra pessoa, e isso fazia com que os encontros entre eles fossem algo palpável, como se fossem um casal de verdade, como se depois dali, o rapaz não fosse encontrar mais ninguém, agarraria uma foto sua e dormisse sozinho, de conchinha com o travesseiro. Substitua travesseiro por Débora e aí temos toda a trama estapafúrdia. A verdade é que a moça não conseguia sentir raiva alguma por ele, apesar de ter sido traída durante esses meses que estiveram namorando, apesar de ter sido ele quem pediu a mão dela em namoro, apesar de ter sido ele quem alimentou as esperanças que estavam resguardadas com tanta devoção. O que os olhos de Clara nunca viram, o coração nunca sentiu, fazia sentido. Assim que resolveu sair da loja, achando que o "pesadelo" estivesse terminado, ela passou por uma lanchonete que ficava ali perto, e viu Caio sentado com Débora, dividindo um copo enorme de milkshake de chocolate, tal qual fizera com ela há algum tempo atrás. Se sentiu mal. Pela primeira vez se viu como "a outra", a amante, a válvula de escape, a sempre disponível para os finais de semana em que ele desejasse, e decidiu então que não queria isso para si mesma, nunca mais. Apressou o passo para não ser vista, pegou o celular na bolsa, ameaçou ligar para ver se ele ia atender, devolveu o celular ao bolso da calça, enxugou qualquer resquício de lágrima que brotava no peito, colocou o óculos escuro e se sentiu aliviada, como se tivesse tirado um peso de 79 kilos (Ou mais, já que ele parecia mais gordo do que antes) das costas. Ficou feliz de ter terminado - finalmente - de escrever esse livro, o qual não sabia mais se continuava lendo ou jogava no lixo. No final das contas, fez o que devia ter feito há muito tempo: editar o último capítulo e devolver aquela história à prateleira. Escreveu em uma tira branca "não reler" e colou na superfície do livro, abaixo do título que dizia: proibido reler em todos os momentos sem exceção.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Memórias são navalhas.

Criar memórias é regra, não há como fugir das benditas. Às vezes, antes mesmo que você as viva, lá estão elas, chegando sorrateiramente., preparadas para dar o bote a qualquer instante. Das memórias boas a gente lembra com carinho, mesmo quando o que a gente achava que aquilo iria funcionar, mas não funcionou. O problema é quando termina tudo de forma revirada, às avessas, aquela música começa a tocar em todas as rádios, e a nossa vontade é arremessar o som do carro pela janela. O shampoo de menta que faz arder os olhos e nos lembra da primeira vez que tomamos banhos juntos. Quando eu começo a fazer brigadeiro, é inevitável, só consigo ouvir você dizendo: mas você é viciado em chocolate, né? E aí eu desisto, vou preparar um pavê, um mousse. Não dá pra se livrar dessas memórias, elas vão ficar guardadas para o resto da vida. Com o passar dos meses, elas vão ficando cada vez mais fracas, vão dilacerando cada vez menos. Com o surgimento de novos personagens e novas memórias, as navalhas cegas vão sendo jogadas fora, descartadas. Novas histórias se criam, umas por cima das outras. Memória pode ser um bicho papão ou uma válvula de escape para os problemas cotidianos. Uma fresta de luz ou total escuridão. Por fim, memórias podem ser doces, podem ser azedas, mas nunca, nunca insossas.

sábado, 16 de junho de 2012

Se você o ama, dê tudo de si.

Fecha os olhos, eu tenho uma surpresa. O que é? Fica quieto rapaz, se não estraga. Posso abrir? Não. Nem a porta? Ah, a porta sim, é claro. Cuidado com o degrau. Já posso abrir? Sim, pode. Nossa... você fez isso tudo? Sério? Sozinho? Alguém te ajudou? Não acredito, tem até velas! Ele jogou a bolsa no sofá da sala e ficou fotografando a mesa, provavelmente para postar no facebook mais tarde. Nunca fui muito fã dele postar - quase - tudo que ele faz (ou que nós fazemos juntos) nas redes sociais, mas depois de uma conversa ele até que tem postado menos. E aí gostou? Muito! Há duas semanas você disse que gostaria de aprender a cozinhar, lembra? Eu fiz um curso bem rápido e aprendi a fazer isso aí que você está vendo na mesa. Eu fiz o curso porque eu quero ficar mais perto de você. Como assim? Bem, agora eu posso te ensinar, assim a gente não precisa ficar longe um do outro na hora do curso, entendeu? Mas e seu trabalho no interior? Eu pedi transferência. Bem, aqui eu vou receber um pouco menos, mas nada que me fizesse reconsiderar a ideia. E por que você está fazendo isso? Porque a gente tem estado longe. Eu me sinto longe, e consequentemente você vai me sentir longe também. Mas eu entendo... é seu trabalho. Eu sei que você entende, e todos os dias eu te agradeço por isso, por você ser sempre tão compreensível. Só que sinto sua falta do meu lado quando estou no interior trabalhando, e de noite quando ouço sua voz no telefone, dá vontade de vir correndo e te agarrar assim que você abrir a porta. E eu mudo minha rotina por você, se precisar, se for pra ficar mais juntinho. Você cedeu quando saiu de casa por minha causa, porque seus pais não aceitavam o nosso namoro. Você merecia que eu cedesse também. Porque quando a gente ama alguém de verdade, nós sempre aprendemos a ceder um pouco, a mudar o que for mutável, a pegar atalhos, aprender a chegar mais cedo em casa, o caminho mais curto. Quero chegar em casa todo dia e te pegar acordado, nem que seja levemente acordado, pra gente terminar de assistir o jornal grudadinho, brigar pelo cobertor, pedir para o outro se levantar para apagar a luz. Chegar em casa e ver você dormindo também é lindo, mas é mais lindo ainda quando eu te assisto pegar no sono. Isso não é um sonho, é? Não sei, mas por via das dúvidas, não me belisca. Te amo, dorme bem.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Reticências.

Não suporto relacionamentos que terminam com três pontinhos. Não suporto gente reticência. que nunda dá ponto final em nada. Usa vírgula, acento, til, mas nunca o ponto final. Nunca diz adeus, se despede, última cartada. Deixa sempre no ar aquela de que pode acontecer alguma coisa daqui um mês, um ano, tanto faz. Não suporto gente que não quer, mas que tenta te manter no anzol a qualquer custo. Como amante, segunda opção, guarda-costas, conselheiro ou conhecido. não dá de ficar começando um livro atrás do outro, sem dar um final para as histórias, levando de qualquer jeito, com se ser humano fosse personagem de ficção. Não procura por perguntas, se você não estiver afim de descobrir as respostas. Não procura alguém, se você não estiver afim de receber uma ligação no meio da madrugada. Não tente achar mel, onde não há abelhas. Eu só levo uma ferroada, duas está fora do cardápio.

sábado, 2 de junho de 2012

Ser fiel é uma questão de caráter.

A: Desculpa.
B: Você não precisa pedir desculpa.
A: Claro que preciso, eu errei, eu te traí.
B: Sim... e é normal, você é assim.
A: Não, eu não cometerei esse erro de novo.
B: E como que fica minha confiança? Me fala... Não dá, quando você receber um sms de madrugada, eu não vou conseguir mais acreditar que é um colega do trabalho.
A: Você sabe que nós estávamos brigados.
B: Sim, eu sei, mas a culpa era sua também e nem por isso eu me deitei com o primeiro que apareceu. Se você quer saber, isso nem passou pela minha cabeça. Enquanto você estava lá ajeitando sua calça, eu estava tentando consertar nós dois, pensando em uma maneira de fazer isso voltar a funcionar.
A: Você está fazendo com que eu me sinta culpado.
B: Não... só quero que você pare de tentar se explicar. Ser fiel é uma questão de caráter, só isso.
A: Mas há pessoas que passam por cima disso n'uma boa.
B: Eu sei, e eu não sou uma dessas pessoas.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ficha Limpa - As temidas bagagens emocionais.

Esses dias eu parei para pensar um pouco naquelas pessoas que passaram pela minha vida, desde pequenas paixões até grandes romances. Infelizmente, não vivi ainda um grande romance, mas uma história aqui e outra mais adiante até que podem ser chamadas de amor. O que percebi nesses casos, foi que todas essas pessoas traziam consigo bagagens emocionais. Algumas leves, outras nem tão leves assim, e algumas realmente ruins de engolir. Bagagem leve, pra mim, seria ter um ex recente. Todos nós (eu nem tanto) estamos sempre vivendo o amor como se fosse uma grande roda gigante. Se não dá mais, alguém cede o lugar, e não demora muito até que outra pessoa ocupe o lugar vago. É quase impossível você conhecer alguém que não tenha um ex recente, recente que eu digo é de meses ou até um ano, no máximo. É uma bagagem que dá de levar numa boa dependendo do grau de intimidade do ser em questão com seu ex. A bagagem não tão leve assim, já merece um pouco mais de atenção. Além de um relacionamento recém acabado, tem algumas outras particularidades que vale a pena ver com uma lupa. Que particularidades seriam essas? O contato exacerbado, troca de mensagens, a convivência tão grande que o outro chega a ser mais do ex do que seu. Termina-se namoro por isso? Não. Mas como eu disse, requer bastante atenção e cuidado, até mesmo para não parecer um louco enciumado, e pior, um louco enciumado sem motivo nenhum. A bagagem ruim de engolir é simples: relacionamento que terminou por uma briga ou qualquer motivo que requiriu uma medida imediata, mas que não pode ser chamada de definitiva. Adiciona aí vários anos de relacionamento, vários projetos compartilhados, nome de um na propriedade do outro, e o pior de tudo... um sentimento inacabado, incompreendido por ambas as partes. Dessa última bagagem eu só tenho um conselho a dar: não pegue, não toque, deixe onde estiver, para o seu próprio bem. Eu, agora me colocando em questão, não possuo uma bagagem tão grande assim. Como disse lá em cima, vivi alguns romances, romances breves, rápidos. Minhas bagagens estão velhas, algumas foram jogadas no buraco do esquecimento, outras desceram - acidentalmente - ladeira à baixo, se é que você me entende. Enfim, o que eu quero dizer, é que está cada vez mais difícil encontrar alguém que seja ficha limpa, que seja bem resolvido consigo mesmo, que tenha palavra e que seja honesto com os próprios sentimentos. Tudo que eu quero é viver um amor tranquilo, sem ter que me preocupar que um estranho possa aparecer do nada dizendo: Estou arrependido, quero voltar.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Todo amor que houver nessa vida.

Eu te amo por razões infinitas, que não cabem nas linhas de uma folha de caderno, que transcendem o racional,  que me deixam atônito quando uma mensagem sua aparece na tela do meu celular. Eu te amo, porque mesmo quando você está com frio e só há um cobertor, você se certifica de que ele está me aquecendo, e você, ah, você só quer saber se eu estou quentinho e pronto. Eu te amo, porque quando eu estou doente, você não deixa eu levantar um dedo, ou os pés para ir até sozinha, me traz uma sopa quente na cama, compra uma barra de chocolate na esquina e procura - mesmo de madrugada - uma farmácia para comprar analgésicos, embora com tanto mimo, qualquer dor vai logo embora. Eu te amo, porque quando você me deixa em casa, você espera eu entrar no quarto, deitar na cama, ligar dizendo que estou bem, e só então, é que você coloca na primeira marcha e vai embora. Eu te amo, porque você me joga pro alto, nunca pra baixo. Se eu chego dizendo que nada vai dar certo, você logo trata de mandar eu refazer a frase. Vai dar tudo certo, você diz. Eu te amo, porque mesmo quando você está cansado, presta atenção nas minhas reclamações, quer saber como foi o meu dia, e escuta tudo atentamente. Bem, até seus olhos não aguentarem, e daí eu te acomodo no meu colo e depois te levo pra cama. Eu te amo, porque você apareceu em um momento da minha vida em que eu não acreditava mais em nada, nem em mim mesmo. Sem exceder ou faltar, você sabe a medida certa que me satisfaz. O único problema é que você não é do jeito que eu sempre quis, você é melhor. Quem eu supus esperar, perto de você, parece sonho de criança. E o mais engraçado de tudo, é que eu não tenho medo de te perder. E eu não tenho de te perder, justamente porque não tem como se perder de alguém que era seu desde o princípio. Por mais que você ainda seja um personagem anônimo, todos os dias eu torço para que você exista.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O lado negro de Ana.

Menina Ana nem sempre foi boa moça. Segundo sua mãe, quando ela era pequena, comia verdura como se fosse bala de mascar. Que menina estranha, trocando hambúrgueres por brócolis. Certo dia, ela chamou duas vizinhas para brincar na área de sua casa. Ana tinha doze anos. Faz comidinha aqui, comidinha ali, se pendura na grade e pula. Repetiram isso várias vezes. Ana chamou as duas amigas para irem no seu quarto. Enquanto elas reparavam em cada detalhe e elogiavam a sua colcha rosa, o barulho da porta fechando fez as meninas se assustarem. Ana passou a chave. No início, parecia uma brincadeira. Até que meia hora depois, a porta ainda estava fechada. Mais um detalhe: as janelas também estavam fechadas. Resultado: um quarto abafado. As duas meninas começaram a gritar. Uma hora depois. As meninas começaram a chorar. Eram todas pequenas, eram todas indefesas. Não sei Ana, ela era... difícil, complexa, não sei. Ouvindo o desespero do outro lado da porta, o barulho da porta se abrindo fez as meninas saírem em disparada para fora. Como se quisessem respirar. Não entenderam a "brincadeira" de Ana, e nem ela soube explicar o que havia acontecido. Duas semanas depois daquele incidente, Ana tentaria enforcar uma das duas. Assim, brincando, pulando na grade e caindo no chão. Coisa de criança? Ana, agora adulta, apresenta normalidade social, mas dentro da sua cabeça, já aconteceram coisas que nem a Ave Maria das torradas gostaria de saber.

domingo, 22 de abril de 2012

Dois encontros com a mesma pessoa.

Era sábado, Ana decidiu ir para a balada. Precisava chacoalhar o corpo, a mente, alguns sentimentos mal resolvidos. Foi de carona com algumas amigas. Duas horas depois, decidiu ir embora. A boate ficava muito, muito longe da sua casa. Ficou um tempo parada na porta decidindo se ia de táxi ou ligava para um amigo. Nesse instante, um carro se aproximou, o vidro desceu e o rapaz perguntou se ela gostaria de uma carona. Ela pensou em dizer não, foi a primeira coisa que lhe veio a cabeça. A resposta mais sensata, mais madura para os seus dezessete anos. Ana entrou no carro. Marcelo, era o nome dele. Papo vai, papo vem. Ele a deixou em casa, mas antes de abrir a porta do carro para ela, pediu gentilmente seu número. Ana se recusou. Com um pouco de insistência, Marcelo saiu de lá com mais um contato adicionado na agenda. Ele nunca ligou. Ana esperou a ligação feito uma louca varrida, plantão dia e noite, feito uma mocinha apaixonada, boba mesmo, sabe? Dois anos passaram. Ana conheceu outros rapazes, casos de uma noite só, mas amar... amar mesmo, Ana nunca amou. Coitada, tadinha, diziam os que a conheciam. Há dois anos atrás, Ana era uma, dois anos depois, continuou quase a mesma coisa, com uma leve mudança no corte de cabelo, agora um pouco mais curto, quase nos ombros. Acreditava em príncipe encantado, óvnis, e Ave Maria aparecendo em torradas. Dessa vez, Ana já estava na faculdade. Enquanto aguardava a amiga chegar para irem juntas à sala, alguém vinha na sua direção. Sem os óculos, fechou um pouco os olhos para tentar enxergar melhor. Era ele, de novo. Ana o cumprimentou, normal, como se fosse um estranho, apenas alguém que ela conheceu no passado. Já ele, fez uma cara de que não havia entendido o porque de ela ter o abordado. O rosto de Ana corou. Obviamente, ele não se lembrava dela. Mesmo assim, houve uma breve conversa, alguns flertes, um convite, um "sim" e algumas horas depois eles estavam jantando juntos. Ana só podia ser muito chata, ou ele só podia ser um banana mesmo, porque mais uma vez, ele não ligou ou quis um segundo encontro. Ana mudou de curso. De Psicologia para Biologia. Estudar as plantas, os animais, devia ser mais fácil que estudar a cabeça dos seres humanos. Ana não queria encontrar mais sapos. Chegou em casa, pegou a torrada de Ave Maria e rezou.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Do que você tem medo?

Ele foi rápido, direto e curto: de ficar sozinho, respondeu. Não escrevia à toa, para ninguém ler. Sonhava com o dia em que andaria na rua de mãos dadas. Queria uma foto romântica em Paris. Uma foto com os amigos na Disney. Queria alguém para colocar na discagem rápida do celular. Alguém disponível quase que vinte e quatro horas por dia. Alguém com que pudesse contar. Dia e noite, noite e madrugada. Ver o sol nascer, se pôr, a lua chegar, o céu se fechar e a chuva molhar o seu rosto colado no rosto do outro. Vai dizer que não é perfeito, que não combina? Que ranzinza. O amor foi feito pra mim também, sabia? Mas aí nessa história toda, entra o fator medo. Fator esse que me desestrutura, faz doer. A indecisão, esse não saber como vou estar daqui a alguns anos. Aliás, ao que me consta, há cinco anos atrás eu estava sozinho. Hoje não mudou nada. Viu? Consegue entender a minha angústia? E se daqui a cinco anos continuar tudo do mesmo jeito? As mesmas esperanças fracassadas, as expectativas exacerbadas, as pessoas erradas. Se eu ficar seletivo demais, é capaz da pessoa certa passar e eu nem perceber. Se eu ficar aberto demais, quando ela chegar já vai encontrar tudo aos pedaços. E aí? Arriscar ou preservar? Correr ou ir devagar? Infelizmente, não existe fórmula exata. Não é química, física ou matemática. Longe de mim querer minha cara metade, amor recíproco já me bastava.

domingo, 8 de abril de 2012

Pessoas bonitas recebem mais atenção?

Diego, 24 anos, futuro dentista, sabia cozinhar, lavar, passar. Não tinha carro, andava de ônibus, às vezes de táxi. Trabalha dia e noite para pagar a faculdade, que era cara, diga-se de passagem. Sabia um pouco de tudo. Política, cultura, moda, entretenimento. Tinha opiniões formadas, muita informação arquivadas, preguiça de nada. Diego era querido, mas não era paparicado. Kleber, mesma idade, futuro administrador, não gostava de ler, mas entendia muito bem de bebidas caras. Morava próximo da casa de Diego. Tinha um pele bonita, branca, nenhum sinal de espinha, um sorriso que chamava atenção, olhos claros, cabelos curtos e lisos. Diego tinha poucos amigos, Kleber um batalhão deles. Quando estavam os dois em um grupo de dez, Kleber se destacava ao falar de suas viagens. Os comentários de Diego não eram notados. Mesmo sendo simpático, ninguém parecia dar a devida atenção ao rapaz. Ele se esforçava, os dias foram passando e ele descobriu que era engraçado, tinha uma veia cômica. usou essa veia para se destacar, mas mesmo assim ele não marcava, não era memorável. Já o Kleber, um sorriso era suficiente. Era impossível, constatou Diego: os dois não podiam sair juntos. A mesma história contada por Diego era sem graça, pelo Kleber era digna de seriado televisivo, viraria filme. Não sei, não sei. O que é beleza hoje em dia? Essa supervalorização do interior que tanto falam é tudo mentira.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Ciao.

Quando você chegou ainda era fim de tarde. Sentou do meu lado no banco, elogiou o pôr-do-sol, me ofereceu chocolate e perguntou quem seria a pessoa ideal pra mim. Eu disse que apreciava sinceridade. A resposta não agradou. Só isso? Expliquei que não me sentia mais tão exigente quanto há alguns anos atrás. Eu poderia ter dito diversas qualidades e adicionado cavalo branco, mas isso tudo foi extinto, está sendo. Hoje só quero e prezo pela verdade. A verdade de dizer o que sente, dizer que ama se for de coração, ou pedir para ir embora porque as coisas mudaram. Mas, quem é assim hoje em dia? Quem é verdadeiro consigo mesmo? E com os outros? Por que será que é tão difícil dizer a verdade? É falta de experiência ou de caráter? A escassez disso trouxe consequências. Toda verdade dita na cara é tida como arrogância, despeito, maldade. Toda verdade dita na lata é faca afiada, arma apontada no meio da cara. Mentiras confortam, afagam os cabelos, acariciam o rosto depois de um longo dia de trabalho. A verdade mata, a mentira salva. No fim, disse que estava mentindo, que eu não era exigente coisíssima nenhuma. Não acreditei. Alguém que mantém dois namoros - sem que os envolvidos saibam - ao mesmo tempo não merece dar qualquer opinião sobre verdade, e tampouco sobre caráter. Me levantei e fui embora antes que deixasse de acreditar de vez. Antes que começasse a acreditar que sim: verdades não rendem mais bons frutos.

domingo, 25 de março de 2012

Minhas amizades morrem na praia.

Não tenho um círculo de amigos. No máximo, um triângulo e olhe lá. Não é de hoje que eu sei: minhas amizades morrem na praia. A culpa é minha? Que não me disponho a visitá-los, que tenho preguiça de construir pontes, que sou tímido, que não sinto vontade em criar novas relações. A culpa são dos outros? Que não me procuram, que não dizem sentir falta, que não fazem convites, que não parecem estar vivos. Minha ou deles, não sei. Eu sei de uma coisa: sinto falta. Sinto falta de uma mesa redonda, jogar conversa fora, rir de doer o maxilar. De uma amizade que eu tenha certeza que vai durar. De uma amizade que é tão forte quanto amor. Porque eu sou ótimo como amigo, quem já precisou de mim sabe disso. Eu cancelo qualquer compromisso, falto trabalho e me disponho vinte e quatro horas se for preciso. Chamo para ver filme, dar uma volta de carro, qualquer coisa. Não vou dizer que não sou valorizado. Mal aproveitado? Talvez. Pensando bem, talvez eu esteja andando na pista errada. Recusando convites de quem acho passageiro, e dizendo sim para quem talvez nem seja pra sempre. Temos que nos dispor a quem se dispõe pra gente, não é verdade? Só quero alguém para me ouvir no final do dia. De forma natural, sem que pareça obrigação. Sem que soe como "vamos chamar ele pra sair, o coitado é sozinho demais." A partir de hoje é o inverso: só vou estar perto de quem quer estar perto de mim.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Às vezes eu só quero descansar.

Capítulo um: Tirei um tempo pra mim. Eu, o mar, as trilhas, a água na garrafa, maçãs, uvas, pés de manga, jabuticaba. Céu azul, vidraças, livros na cabeceira, na cama. Chocolate quente, filmes, compras, utensílios domésticos, ovos de páscoa, por que não? Uma volta no centro da cidade, o entrar e sair de lojas, milkshake de capuccino. Os olhos lacrimejando às sete da manhã, a cara amassada, a roupa ainda por ser engomada. Meia hora esperando o ônibus, fones de ouvido, viagem curta. Eu indo em direção ao trabalho. Eu indo em direção a faculdade. Eu, sozinho, solitário, recluso, quieto, reflexivo, fechado, fora de linha, indisponível, e feliz, acredite se quiser. Capítulo dois: Você é melhor longe, você é melhor perto, você é melhor apenas sendo admirado na arquibancada. Agora você, você é melhor pra qualquer um, menos pra mim. Não se julga um livro pela capa, não se julga a felicidade alheia por uma publicação no facebook. Tudo isso pode ser sobre você, sobre mim, sobre nós, sobre ninguém em especial. Eu não quero ter que explicar meus motivos, eu não quero a obrigação de sair para encontrar alguém no meio dia, piscina no domingo, balada no sábado, filme na sexta, jantar na segunda. Meia hora deitado com ele era tudo, hoje não é nada, perca de tempo. Aquilo que a gente ouve, é verdade mesmo: é necessários dias e dias para construir uma imagem "perfeita", e apenas um passo em falso para que todo um altar venha abaixo. Capítulo três: Caros terráqueos, entendam, eu só quero descansar um minuto.

O que é importante discutir?



Não quero viver em um mundo, onde um caso de atropelamento ganha mais destaque, que um caso de bullying. O atropelamento vai ser resolvido, não adianta ficar discutindo com a vizinha na beira da calçada. Há juízes, policiais, pais, vários envolvidos. Não quero viver em um mundo, onde a falta de um jogador no treino, vira bate-boca de fim de tarde, enquanto mulheres sofrem nas mãos de maridos violentos e sem compaixão. Vivemos em um mundo onde ninguém liga quando arremessa um saco de lixo pela janela, mas que todos entram em desespero, quando esse lixo pára na porta de casa, depois de uma enchente. É preciso prevenir, nem sempre o remédio consegue conter a contaminação. É preciso estudar, para não ser passado para trás, ser o último da fila, no banco, no refeitório, na vida. É preciso ser instruído, ter a cabeça aberta e a mente fértil. Para justamente poder discutir aquilo que vale a pena: violência, a saúde precária no Brasil, discriminação, problemas ambientais, abuso infantil, e etc. Deixar de lado as notícias de famosos, futebol, qualquer coisa supérflua. Essa parte que excede deixamos para aquele domingo a noite, aquela conversa regada a bebida, despretensiosa, uma vez por semana. Alguns assuntos são urgentes, precisam ser resolvidos pra ontem, as ações do governo não são remédios, a prevenção somos nós: seres humanos.

sexta-feira, 16 de março de 2012

#poetizando

Voa, voa para bem longe de mim. 
Para que eu possa esquecer do teu canto e do teu perfume. 
Esconda-se onde eu não possa ver. 
Arruma uma casinha qualquer. 
Madeira, barro, palha, não importa. 


Fuja, só fuja. 
Para que eu possa esquecer do seu colo, 
olhos e dentes amarelos. 
Se volta em um dia, um ano, uma hora, não importa. 
Ainda não desfiz a tua cama.

Teu travesseiro permanece quente.
Há fios de cabelo no lençol. 
Você disse que voltaria, e eu acredito. 
Mas se fica, seja feliz, haverão outros cantos a me encantar, eu sei. 
Mais que tu, meu bem. E até quem sabe, mais de mim.