sábado, 7 de janeiro de 2012

É tudo sobre o acaso.


          Você disse certo dia "era o tempo certo. foi o destino, não acredito que foi por acaso". Na hora que ouvi, eu fiquei pensando se tinha sido mesmo o destino, se estávamos no lugar certo na hora certa. Achei aquilo bonito, confesso. Depois disso, achei que era tudo sobre estar destinado, nada era por acaso. Meses se passaram, e o mesmo destino - que você disse existir - fez com que terminássemos em ruínas. O que o destino une, separa? Pode ser. Mas não acredito. Hoje, analisando as pegadas, acredito que foi tudo culpa do acaso. Veja bem, eu precisava de um colo, você também. Parques são locais adequados para procurar colos. Colos diferentes, colos que não encontramos em boates, ou em outros lugares. Não era como se estivesse chovendo enquanto eu passava, um carro jogasse água na minha roupa e você - justamente você - estivesse do outro lado da rua com um guarda-chuva, me levasse até seu apartamento e oferecesse uma roupa seca. Isso é destino, isso seria predestinado. Acaso é o contrário, acaso é irmos no mesmo local, estarmos procurando a mesma coisa e darmos de cara um com o outro.

- Você só voltou aqui para dizer isso? Ele perguntou.
- Desculpa, mas eu precisava. Agora eu já posso virar a página.

E saí com o carro na chuva. Coloquei a trilha sonora de "An Education" para tocar. Foi o primeiro filme que me veio a cabeça naquela hora. De repente, minha vida parecia um filme.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ainda não saí esses dias.

Acordo sete da manhã para ir trabalhar às dez. Nunca chego no horário, nunca acordo no horário. Sempre perco o ônibus que eu deveria pegar para chegar na hora certa. Às vezes com preguiça de sair da cama. Oito horas de sono não são suficientes, nove horas de sono me deixam ruim do estômago, menos que isso é acordar morto. Meu horário de sono é todo desregulado, e tem dias que eu acordo bem pra cacete, e tem dia que eu quero simplesmente fechar os olhos pra sempre. Acho que vai mais do estado de espírito, sabe? Já percebi isso. Como esses dias eu não tenho dormido nem feliz, nem triste, eu acordo normal. Às vezes com fome, às vezes não. Mas então, não tenho saído esses dias. Desde o ano novo. O ano novo foi bom... achei que seria pior, francamente falando. Não posso dizer que vai ficar pra história. Não foi com vinte e um anos que tive o melhor ano novo da minha vida. E eu tenho ficado em casa desde o começo do ano, desse ano que é novo, mas as merdas do passado continuam aqui comigo, enfim... fico aqui escrevendo atrás de cadernos velhos, lendo algum livro, vendo algum filme. Esse mês acho que vai ser assim. Eu não tenho dinheiro, então, não vai rolar cinema, pizzaria, teatro, nada. Vai ser eu, páginas amarelas e meus óculos pra enxergar as letras miúdas no computador. Eu não tenho sentido muita vontade de conversar, não tenho nada pra conversar, entende? O que aconteceu ano passado, ficou no ano passado, e não quero comentar do que aconteceu comigo, pra ver se esqueço, se tudo de ruim morre logo de vez. E tá morrendo, tá dando certo. Não tenho sorrido muito esses dias também. Tô me sentindo como um funcionário público com vinte anos de carreira. Só que bem mais pobre, e sem tantas rugas. Eu tenho visto gente por aí, sim, na academia, nas corridas noturnas, no trabalho. Mas acho que elas não me vêem não... elas sempre estão olhando pra cima, pro lado oposto. Hoje a cobradora de ônibus que é simpática - porque a maioria é uma cambada de malas sem alça - falou comigo e perguntou sobre meu ano novo, e perguntou sobre meu trabalho. Vejo milhares de pessoas, alguns se dizem meus amigos, e é nos locais mais improváveis que alguém se preocupa contigo. Tenho me sentido só, mas é um só que está dando de se acostumar, que tá dando pra levar. Quando parece que algo vai doer, eu dou play em algum filme e finjo que não é comigo. Não sei, acho que tenho acordado com preguiça dos seres humanos.

de gus van sant.

domingo, 1 de janeiro de 2012

nós não temos todo o tempo do mundo.


carta de hiroshi, filme 'restless' do diretor gus van sant:

"Enquanto escrevo essa carta, a brisa do oceano fica gelada na minha pele. Esse mesmo oceano logo será meu cemitério. Dizem-me que morrerei como um herói. Que a segurança e a honra do meu país, será a recompensa de meu sacrifício. Rezo que estejam certos.Meu único arrependimento na vida é nunca ter lhe dito como me sinto. Queria estar em casa. Queria estar segurando sua mão. Queria estar lhe dizendo que eu amei você, e apenas você, desde criança. Mas não estou. Agora entendo que a morte é fácil. O amor que é difícil. Quando meu avião mergulhar, não verei o rosto dos inimigos. Ao invés disso, verei seus olhos, como que rochas negras congeladas com a água da chuva. Dizem que precisamos gritar "Banzai" ao atingir o nosso alvo. Ao invés disso, sussurrarei seu nome. E na morte, como na vida, continuarei seu para sempre."

Alferes Hiroshi Takahashi.

Dessa vez pode ser diferente.


Ano passado, corri atrás de respostas. Corri até os últimos quinze minutos do segundo tempo. Tentei dizer coisas, embora não completasse frases. Eram claras e limpas, só não enxergava quem não quisesse. Eu liguei muito e senti falta, o que não foi suficiente. Quis ser prioridade para alguém, e só acabava ganhando papel de coadjuvante. Eu pisei em cima do que acreditava para que minha esperança não morresse. Eu acreditei de novo em coisas que dizia nunca mais acreditar, em atitudes que jurei nunca mais ver com bons olhos, porque nunca eram de coração. Aplaudi o amor, inflei egos, rasguei e mandei cartas, quis me livrar de coisas como se fossem sentimentos, priorizei anônimos, fui descartado 'n' vezes, presenciei brigas e reconciliações, ajudei no backstage, servi de testemunha da felicidade de muita gente, menos a minha. Eu disse que não faria promessas de ano novo, e isso não é bem uma promessa, é uma tentativa que espero que dê certo. Tentar priorizar eu mesmo. Deixar o romantismo pra quando for realmente a hora de usá-lo, e não ficar por aí morrendo de amores, dando murro em ponta de faca, por gente que faz muito pouco do que eu falo. Não vou ficar indo atrás como fiz esse ano. Não vou ficar implorando pela atenção de amigos, pela atenção de ninguém. Acredito que sou uma pessoa que seja merecedora de atenção, e que certamente não preciso me ajoelhar aos pés de ninguém para que eu tenha algo tão simples. Eu tenho os meus problemas, sabia? E eles não são tão simples. São traumas de infância, deficiência social, carência. Não tenho mais saco para lidar com draminhas, com unha quebrada ou espinha que aparece no dia do casamento. Não tenho mais saco para lidar com pessoas que muito falam e pouco agem. Não vou fechar meus olhos para o que está debaixo dos meus olhos por medo de ficar só. Quando a gente fica com alguém que está em um patamar, estado de espírito, totalmente diferente do seu, nos sentimos mais solitários do lado dessa pessoa, coisa que até então eu ainda não tinha vivido. E mais, sou suficientemente adulto para lidar com qualquer situação. Então, joga a porra da verdade na minha cara antes de dar o primeiro passo, só isso que eu espero, é o mínimo que o ser humano pode ser: sincero.

Esse trecho de "Secrets", do One Republic, diz o que eu peço encarecidamente nesse ano:

"Don't need another perfect lie; Sick of all the insincere."

Por favor x)