terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Só ame até onde aguentar.

Eu não sabia até onde valia a pena amar alguém sem ser correspondido, até que um dia - no ponto de ônibus - eu ouvi uma senhora dizer ao neto: Só coma o que aguentar. É claro, é isso. Só ame até onde aguentar. Anotei no meu bloco de notas, pois tenho a memória péssima. Rapidamente, lembrei de um caso antigo, dois anos atrás. Eu - parado na frente de um apartamento - amando sozinho. Meu nariz congestionado, as lágrimas de resfriado misturando-se com todo o resto. Um abraço, era tudo que eu precisava. Olhei para o apartamento. A luz acesa. Fiquei imaginando... briga de casal? um jantar romântico? as pernas entrelaçadas embaixo do edredom? Não sabia. Poderia ser qualquer coisa... só não era nada. Como um holocausto dentro de mim, não consegui dar um passo. Passaram dias. E eu permanecia ali, de olho na luz do apartamento, que ora acendia, ora apagava, ora ficava na penumbra. Penumbra, eu imaginava, eram as noites de sexo. E foram tantas. Eu fui o que nunca achei que seria um dia: paciente. E amei como alguém que adora sentir dor, até não aguentar mais, até ser obrigado a andar de volta pra casa. Refazer o mesmo caminho. Parar na mesma padaria, comprar vitamina C na primeira drogaria. Agora não havia mão dada. Só eu, minhas pernas cansadas e um nariz congestionado.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Quem dera eu fosse mutável.

Quem dera eu fosse assim, do jeitinho que vocês gostariam. Duas colheres a mais de sal pra ver se melhora um pouco. Quem sabe, tirar o excesso de tinta da timidez e substituir por qualquer cor mais forte. Sabe o que mais eles dizem? Que eu deveria experimentar tomar menos coca-cola e passar a gostar de pepsi. Sabe por que? Porque assim as pessoas vão me olhar de forma diferente. Como se eu vivesse exclusivamente para atrair pessoas para aquele jardim... aquele que a gente deve cuidar tão bem para que seja visto. Quer saber? Tô nem aí. Eu não vou ficar mudando os vasos de lugar, colocar tapete, trocar o meu cachorro por uma raça que seja mais imponente. Eu não vou ficar tentando mudar em mim, justamente as coisas que me diferenciam dos demais. Eu vou continuar usando esse corte de cabelo comum, sem brinco, piercings ou tatuagens. Não quero ser mais extrovertido, social, o cara que conhece Deus e o mundo. Não sou e nunca serei viciado em esportes, desculpa. Eu sou assim mesmo, sem sal... como alguns costumam dizer. Se sendo assim eu não sou suficiente para você, paciência, vai atrás de alguém que tenha o que você diz sentir falta em mim, porque não há sentimento no mundo que vá me transformar da água pro vinho.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Até que um dia você suma.


Sumi porque já não nos resta assunto para botar em dia. Sumi para não ter que atender as suas chamadas ou esbarrar com você no caminho para o trabalho. Sumi porque você está feliz, lidou bem com tudo, bem o contrário de mim. Sumi porque só me resta sumir. Ser obrigado, não ter outra opção. Sumi porque por perto não iria conseguir esquecer. Ficar seria lembrar-se de tudo todos os dias. Sentir o gosto de bala de menta na língua, o cheiro do teu shampoo no meu travesseiro. Ficar seria te ter sempre por perto, mas sem poder tocar. E qual é a graça de conviver com alguém que não podemos ter? Sumi, e mesmo sumindo, ainda te vejo todo santo dia. Ao acordar, na hora de dormir. Não adianta sumir. Mesmo sumindo eu olho no espelho e me vejo usando sua camiseta. Mesmo sumindo me pego lendo um trecho do livro que você me deu. Eu sumo, mas as memórias não. No final de tudo, quem deveria sumir não some. E em contrapartida, aparece uma opção: desistir de sumir. Não mudar mais para o outro lado da rua quando você estiver vindo, ou rejeitar suas ligações. Até que uma hora eu me acostume. Até que uma hora eu não me pegue mais te ligando quando algo de novo acontecer. Até que um dia eu não me pegue lembrando-se de ti antes de dormir. Até que uma hora você suma, mesmo sem sumir. 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

#2

Me dou o direito de não chorar em enterros, de não visitar os entes queridos que já morreram no dia de finados. O direito de orar sozinho em casa antes de dormir ou quando sentir vontade. De não gostar de instituições, de não sorrir para sustentar uma felicidade que não existe. Me reservo o direito de fingir ser forte, de arriscar tudo em situações fracassadas, de jogar o carro contra a ribanceira, de mentir. Há dias em que não consigo segurar a verdade. Há pessoas que precisam ouvir uma grosseria de vez em quando. A maioria das pessoas não são o que pintam. Elas vivem tentando fazer você acreditar que são anjos, mas na verdade são pinturas abstratas, frias, sem valor nenhum. Não são Picasso, e nunca serão. Mas você não sabe, até colocar a mão no fogo e se queimar. No lugar de asas felpudas, navalhas. Língua doce com palavras salgadas. Não tenho pretensão de ser o mais esperto, ou o mais bonito.  Não quero ser notado pela pele, mas pela carne. Interior, entende? É só isso que eu tenho. Não nasci com porte de príncipe, pelo contrário. Tenho respostas na ponta da língua, por isso algumas vezes acabo falando o que não devia. Sei dizer "não" de forma sutil. Digo a verdade com um jeito que vá doer o menos possível. Eu me preocupo com o sentimento alheio, nesse caso não existe reciprocidade. Por favor, seja lá quem for, pare de me empurrar as sobras, eu mereço um bolo inteiro.

#1

Não é fácil viver com a ideia de que um erro no passado, possa ter custado todo um futuro. Que o orgulho e a imaturidade possam ter me tirado a chance de viver o que tanto anseio. Não é fácil viver achando que escolhi o caminho errado. Mas como mudar o ontem? O ontem já foi. Quem estava nele seguiu em frente, e eu deveria superar isso também. Não era pra ser... ou era? Não dá para desenterrar os ossos, remontar as histórias, querer repetir algo que não funcionou uma vez. Eu não consigo. Por mais que eu gostaria de tentar, querer reeditar um romance é quase um pecado, retrocesso, voltar duas casas no jogo da vida. E nesse momento a unica que eu devo e posso fazer é continuar, jamais pensar em voltar. O medo de ficar só, aumenta a cada dia. A minha própria companhia é muito limitada. Não há muito a se fazer quando a conta bancária não é gorda. O mesmo medo que é meu, também é o fantasma da vida de outros. Conheço pessoas que não tem coragem de atravessar a faixa, então elas vivem uma mentira nas calçadas. Dois filhos e um casamento de fachada. Quando ninguém está olhando, elas decidem ultrapassar todos os limites. Mas o que eles valem quando ninguém está vendo? Ainda assim, você continuará sendo uma mentira. O amor não é mais sobre o que já foi, e sim sobre o que ainda virá. Eu continuo sendo a mesma pessoa - emocionalmente falando - de quatro anos atrás.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Caio, César e Clarisse. Pt1

"Caio namorava César que era casado com Clarisse, mas Caio não sabia. Clarisse era casada com César que namorava Caio, mas Clarisse não sabia. Caio não conhecia Clarisse, Clarisse não conhecia Caio, e ambos não conheciam César."



          O carnaval se aproximava e Caio não estava afim de participar da "folia" esse ano, e deu a ideia para César de que deveriam passar esses dias de folga do trabalho em um lugar mais tranquilo. César balançou a cabeça fazendo sinal positivo. Nesse mesmo dia, César chegou em casa e percebeu que Clarisse estava indiferente. Não respondia aos seus carinhos, seus beijos, desviava de qualquer toque. Estava chateada. Ele sentou na cama depois de um banho demorado e ficou pensando. "Como poderia ter esquecido?", ele pensou, levando a mão a testa como se fosse a pessoa mais estúpida do mundo. E talvez fosse. À noite, preparou um jantar especial enquanto Clarisse estava no shopping com as amigas. Ela ao chegar em casa mais tarde, se deparou com um jantar romântico, com direito a flores, música ambiente e velas. Clichê? Sim. Se surte efeito? Sempre. "Você lembrou!" e em seguida pulou nos braços de César. O jantar ocorreu da melhor forma possível, até ele receber uma ligação. Ligação de um rapaz. Clarisse não sabia quem era, César se limitou a dizer apenas "Estou a caminho." Disse para a esposa que teria que ir na empresa resolver um problema. Uma mensagem de César chegou no celular de Caio: "Venha aqui no escritório." Clarisse permaneceu na sala bebendo um vinho, e um pouco insegura, resolveu impulsivamente pegar as chaves do carro e ir atrás de César. Estavam os três a caminho da empresa onde ele era chefe. Naquela hora não haviam funcionários trabalhando, já passava das nove da noite. Caio e Clarisse iriam finalmente se conhecer.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

De frente com Gabi.



Esses dias eu estive com Gabi, não sei se contei essa história pra vocês. Acho que não, na verdade, ainda não contei essa história pra ninguém. Entre perguntas sobre minha carreira profissional, o relacionamento com a família, e o distanciamento de amigos antigos, ela me perguntou sobre o assunto que mais me desespera: os sonhos. Qual seu sonho? Uma pergunta tão vaga e ao mesmo tempo tão simples. Simples porque pode resumir-se em apenas uma palavra, e vaga por conta da infinidade de possibilidades. "Sei lá" não agradou muito a moça loira, que começou a esfregar as mãos umas nas outras, e me olhar de forma direta, como se eu estivesse escondendo o jogo. Como se não pudesse ficar pior, ela me perguntou sobre relacionamentos amorosos. "Há três anos não sei o que é beijo na boca". Aos 27 anos, eu estava solteiro. Sozinho. Solitário. Enfim... vocês entenderam. "Tenho uma cachorra..." Acho que na cabeça dela, ecoava a pergunta "E por que não um gato?". Credo, será que eu estava mesmo tão solitário assim? Um gato... seria demais. Adotar, comprar um gato seria como desistir de tudo. Mais de dois então, seria a própria morte. "Com o perdão de quem gosta, é claro. Essa é apenas uma teoria que veio comigo desde pequeno" expliquei. Para finalizar a entrevista, resolveu fazer um bate bola. É bate bola, né?

Vício: Leitura
Conhecimento: Eu tenho muito, obrigado Gabi.
Nojo: Insetos.
Cinema: Em casa.
Droga: Podia ser pior.
Mentira: Já teve perna curta.
Liberdade: Poder escolher com quem você vai se esbarrar na rua quando sair de casa.
Rio Branco: Um aprendizado enorme.
Carreira: Pode ficar melhor.
Um medo: Esses robôs que me atendem nas livrarias.
Um sonho: Morar com alguém.
Filhos: Dos outros e olhe lá.
Casamento: Pena de morte.
João por João: Azarado pra caralho.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Qual a dificuldade em amar?

 
Cena do filme "Begginers".

Alguns dizem que não estão à procura e que são felizes assim, outros estão cansados de estarem disponíveis e resolveram se fechar para tudo e todos, mas os espertos estão sempre atentos, sempre aproveitando as oportunidades de serem felizes. Não sei em qual dessas fases eu me encaixo no momento. Talvez desiludido, acomodado, com alguns surtos de carência e depreciação irônica. A verdade é que nunca fui melancólico de fazer os outros terem raiva. Trato minha dificuldade em me relacionar com os demais, como um verdadeiro circo. Não só a minha dificuldade, mas a dos outros também. A preguiça está dificultando encontrarmos alguém para dividir um sorvete em um domingo quente. Quantas vezes já não desisti de relacionamentos antes mesmo deles desabrocharem? E sempre por razões bobas e fúteis. O problema é que quando você resolve se abrir, quebrar o cadeado do portão, não sabe quem vai entrar, porque nem sempre conseguimos controlar o tempo, nem sempre conseguimos ditar quando aquela pessoa vai poder sentar na mesa e dividir um jantar a luz de velas. Algumas conseguem o feito de entrar até mesmo sem serem convidadas. E aí as expectativas crescem, junto com o medo. O medo de bagunçarem tudo que estava arrumado. O medo é outro fator que dificulta um pré-relacionamento. Eu - por exemplo - que já tive que arrumar a bagunça várias e várias vezes, criei um certo medo. Medo de que na próxima vez eu não vá resistir, vá entregar os pontos facilmente, deitar sobre a bagunça e nunca mais arrumar. A realidade é que a gente sempre arruma, sempre se levanta e sempre vai deixar outra pessoa entrar de novo, até que um dia ela não cause uma bagunça, mas o contrário, te ajude a reorganizar, a deixar tudo mais bonito, do jeito que você sempre quis que fosse. E provavelmente vai haver separação - assim como no filme da foto acima -, e em seguida, uma reconciliação. Porque dessa vez será diferente, nenhum dos dois irá entregar os pontos facilmente.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Fora do comum.

Dessa vez eu resolvi agir diferente. Sempre que uma nova decepção batia na minha porta, eu reagia com fúria, fúria contra mim mesmo. Como se me machucando, eu estivesse automaticamente machucando aquele me machucou. Como se deixando de comer, faltando à academia, me trancando no quarto e dormindo o máximo que conseguisse fosse mudar os fatos. Nada vai me fazer voltar há dois dias atrás, deitar na cama dele e ouvir uma frase diferente da que foi dita. Se dói? É claro. No dia seguinte, eu me vi desesperado, como se nunca tivesse passado por algo parecido antes. A verdade é que não, nunca tinha passado. Livrei-me de uma dor futura, e isso é bom, preciso me focar nisso. Levei um soco no estômago antes mesmo de balbuciar qualquer palavra. Bem, a verdade é que agora posso adicionar esse item na minha lista de relacionamentos fracassados. É uma história nova a ser escrita, como estou fazendo agora. Não foi em vão, mas se eu soubesse o que aconteceria, provavelmente não teria ligado o carro e dirigido por meia hora durante a madrugada de domingo, para que ao chegar no meu destino, ele dissesse: “tira o sapato” e em pouco menos de cinco minutos, ele fechasse a porta me desejando boa noite. Dessa vez eu resolvi não cair na paranoia de achar que o erro está comigo. O erro também não está nele. Não há culpa a ser colocada. Não há mágoa a ser guardada. Só há uma coisa a ser feita. Se eu pudesse voltar ao momento no qual eu colocava meus sapatos de volta, eu diria o olhando deitado na cama: “Vou esquecer - eu diria enquanto entrelaçava os cadarços do sapato – e continuar vivendo normalmente, como se você fosse um buraco na estrada, um buraco com um enorme letreiro me avisando para desviar. E eu desviei, obrigado. E dependendo da velocidade, daqui um ou dois dias, eu vou olhar pelo retrovisor e você não vai estar mais lá, vai ter passado, será completamente – dou o último nó antes de me levantar e ir embora – esquecido.”