domingo, 25 de março de 2012

Minhas amizades morrem na praia.

Não tenho um círculo de amigos. No máximo, um triângulo e olhe lá. Não é de hoje que eu sei: minhas amizades morrem na praia. A culpa é minha? Que não me disponho a visitá-los, que tenho preguiça de construir pontes, que sou tímido, que não sinto vontade em criar novas relações. A culpa são dos outros? Que não me procuram, que não dizem sentir falta, que não fazem convites, que não parecem estar vivos. Minha ou deles, não sei. Eu sei de uma coisa: sinto falta. Sinto falta de uma mesa redonda, jogar conversa fora, rir de doer o maxilar. De uma amizade que eu tenha certeza que vai durar. De uma amizade que é tão forte quanto amor. Porque eu sou ótimo como amigo, quem já precisou de mim sabe disso. Eu cancelo qualquer compromisso, falto trabalho e me disponho vinte e quatro horas se for preciso. Chamo para ver filme, dar uma volta de carro, qualquer coisa. Não vou dizer que não sou valorizado. Mal aproveitado? Talvez. Pensando bem, talvez eu esteja andando na pista errada. Recusando convites de quem acho passageiro, e dizendo sim para quem talvez nem seja pra sempre. Temos que nos dispor a quem se dispõe pra gente, não é verdade? Só quero alguém para me ouvir no final do dia. De forma natural, sem que pareça obrigação. Sem que soe como "vamos chamar ele pra sair, o coitado é sozinho demais." A partir de hoje é o inverso: só vou estar perto de quem quer estar perto de mim.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Às vezes eu só quero descansar.

Capítulo um: Tirei um tempo pra mim. Eu, o mar, as trilhas, a água na garrafa, maçãs, uvas, pés de manga, jabuticaba. Céu azul, vidraças, livros na cabeceira, na cama. Chocolate quente, filmes, compras, utensílios domésticos, ovos de páscoa, por que não? Uma volta no centro da cidade, o entrar e sair de lojas, milkshake de capuccino. Os olhos lacrimejando às sete da manhã, a cara amassada, a roupa ainda por ser engomada. Meia hora esperando o ônibus, fones de ouvido, viagem curta. Eu indo em direção ao trabalho. Eu indo em direção a faculdade. Eu, sozinho, solitário, recluso, quieto, reflexivo, fechado, fora de linha, indisponível, e feliz, acredite se quiser. Capítulo dois: Você é melhor longe, você é melhor perto, você é melhor apenas sendo admirado na arquibancada. Agora você, você é melhor pra qualquer um, menos pra mim. Não se julga um livro pela capa, não se julga a felicidade alheia por uma publicação no facebook. Tudo isso pode ser sobre você, sobre mim, sobre nós, sobre ninguém em especial. Eu não quero ter que explicar meus motivos, eu não quero a obrigação de sair para encontrar alguém no meio dia, piscina no domingo, balada no sábado, filme na sexta, jantar na segunda. Meia hora deitado com ele era tudo, hoje não é nada, perca de tempo. Aquilo que a gente ouve, é verdade mesmo: é necessários dias e dias para construir uma imagem "perfeita", e apenas um passo em falso para que todo um altar venha abaixo. Capítulo três: Caros terráqueos, entendam, eu só quero descansar um minuto.

O que é importante discutir?



Não quero viver em um mundo, onde um caso de atropelamento ganha mais destaque, que um caso de bullying. O atropelamento vai ser resolvido, não adianta ficar discutindo com a vizinha na beira da calçada. Há juízes, policiais, pais, vários envolvidos. Não quero viver em um mundo, onde a falta de um jogador no treino, vira bate-boca de fim de tarde, enquanto mulheres sofrem nas mãos de maridos violentos e sem compaixão. Vivemos em um mundo onde ninguém liga quando arremessa um saco de lixo pela janela, mas que todos entram em desespero, quando esse lixo pára na porta de casa, depois de uma enchente. É preciso prevenir, nem sempre o remédio consegue conter a contaminação. É preciso estudar, para não ser passado para trás, ser o último da fila, no banco, no refeitório, na vida. É preciso ser instruído, ter a cabeça aberta e a mente fértil. Para justamente poder discutir aquilo que vale a pena: violência, a saúde precária no Brasil, discriminação, problemas ambientais, abuso infantil, e etc. Deixar de lado as notícias de famosos, futebol, qualquer coisa supérflua. Essa parte que excede deixamos para aquele domingo a noite, aquela conversa regada a bebida, despretensiosa, uma vez por semana. Alguns assuntos são urgentes, precisam ser resolvidos pra ontem, as ações do governo não são remédios, a prevenção somos nós: seres humanos.

sexta-feira, 16 de março de 2012

#poetizando

Voa, voa para bem longe de mim. 
Para que eu possa esquecer do teu canto e do teu perfume. 
Esconda-se onde eu não possa ver. 
Arruma uma casinha qualquer. 
Madeira, barro, palha, não importa. 


Fuja, só fuja. 
Para que eu possa esquecer do seu colo, 
olhos e dentes amarelos. 
Se volta em um dia, um ano, uma hora, não importa. 
Ainda não desfiz a tua cama.

Teu travesseiro permanece quente.
Há fios de cabelo no lençol. 
Você disse que voltaria, e eu acredito. 
Mas se fica, seja feliz, haverão outros cantos a me encantar, eu sei. 
Mais que tu, meu bem. E até quem sabe, mais de mim.

Reclusão.


Defina o momento no qual você se encontra: ajuste. Apenas isso. Ajuste. Ajustando, dando atenção para o que deixei de lado em função dos outros, dos problemas dos outros. A ordem é de reclusão, e isso vale para todos, sem exceções. Se fechar. Não ver, não sentir, não deixar. Não, não, menos sim. Chega um momento em que você precisa parar de ceder. Ceder ao pecado da carne, ceder a solidão disfarçada de companhia. Não, dizer não, a partir de hoje, agora. Quero me recuperar. Ainda há muita pancada, e eu preciso estar bem, apoiado, com forças suficientes para não cair. Mas eu preciso aprender sozinho. Não terá barras de ferro para eu me segurar, ou braços, ou mãos, ou colos. A ordem da vez é cristalizar, se refugiar. Ir bem longe dentro de mim. Aonde ninguém possa enxergar. É melhor assim. Dói menos. Já se sentiu sozinho a dois? Cama, cobertor, livros, filmes e chocolate. A duração disso tudo? Por tempo indeterminado.

terça-feira, 13 de março de 2012

Ontem era amor.

Ontem andávamos de mãos dadas no supermercado, escolhíamos os móveis, eu te dava flores, você me retribuía com beijos. Ontem mesmo você disse depois de transarmos que nunca tinha conhecido ninguém como eu. Não sabia se era coisa de momento, excitação, falta de coordenação motora com as palavras, mas ao acordar você me deixou um bilhete que dizia quase que a mesma coisa. Você me pegava em casa, eu te ajudava a levar as compras do mês até a cozinha. Rimos de doer a barriga quando você disse "eu vou indo, tenho certeza que não vai chover", mesmo depois de eu ter afirmado que iria. Dois minutos depois, você volta todo encharcado e faz cara feia quando eu lembro que tinha te avisado. O que mudou, você sabe dizer? Dormimos bêbados de sono, e no dia seguinte não havia bilhete, companhia para o café, nada. Você não retorna minhas mensagens, ligações então... Eu tenho certeza que você ainda sabe meu número de cabeça, sabe sim. Disca aí, quero ver você titubear, errar nos dedos. E todas aquelas conversas? Aquelas horas gastas na frente do computador? Eu já devia ter percebido. É sempre assim, se a gente não presta atenção no céu, a chuva que vem se formando há dias cai de surpresa, e você não está sequer com um guarda-chuva  por perto. Que agonia, preciso aprender a sonhar de olhos abertos, e atentos.

domingo, 11 de março de 2012

Com açúcar, com afeto.


Pode sentar. Aguarda só um minuto que eu vou aqui no banheiro. Pronto. O que aconteceu? Por que o seu dia foi péssimo? Ei, você, olha ali na geladeira, fiz seu bolo predileto. Chocolate com cobertura de coco. Suco de manga fresquinho na prateleira do meio. Achou? Está gostoso? Eu fiz na pressa, confesso. Sabe aquele último concurso que eu fiz? Pois é... não passei. Mas eu preciso te agradecer pelas noites que cheguei na cama sem nem lembrar como. Me carregou nos braços? Todas aquelas noites? Eu jurava que isso só existia nos filmes que a gente assistia. Eu mandei dar uma espanada na sua estante, estava cheia de poeira e eu sei que você sofre de crise alérgica. Sofremos, não é mesmo? Alguma vez eu já perguntei quantos anos você tem? Ah, deixa pra lá, não importa. Por que você não disse antes? Eu teria feito cafuné em você todos os dias. Você pode me falar quando estiver carente, ou resfriado, te faço uma sopa bem quente. Prometo que vai ser melhor do que a última, minha mão é um pouco pesada para salgar as coisas, desculpa. Você tem que acordar cedo amanhã? Se quiser posso te ligar outra hora, seu ouvido deve estar doendo. Sim, já troquei de lado. Estou deitado na cama. Vou dormir não, eu juro, é que naquele dia eu realmente estava muito cansado. Ficou muito tempo na linha? Gosto tanto de ti quanto uma leoa gosta de seus filhotes. Te protejo com unhas, dentes e pontapés se for preciso. Me disseram que minha voz parece com a tua, será que não estamos muito grudados ultimamente? Minha mãe disse que só vou em casa para comer. A cama continua arrumada, desde a semana passada. Você me faz uma bem danado, sabia? É melhor que analgésico. Que o teu afeto me afetou é fato. Agora faz um favor: desliga esse telefone e abre essa porta.

sábado, 10 de março de 2012

Quem escolhe muito...

Passa um filme inteiro, sabe? Mas eu era tão novo, tão inocente, não sabia de nada da vida. Não sabia que seria tão difícil encontrar alguém, e depois desse alguém encontrado ainda ter que me apaixonar e ser correspondido. E com você foi de primeira, mas já disse: eu não conhecia sentimento nenhum até você chegar. Essa sensação de ter feito a coisa errada nunca vai passar. Pensar nisso também não vai mudar nada, o rumo que nossas vidas tomaram foi esse mesmo: eu te empurrei do penhasco e você caiu nos braços de outra pessoa. Enquanto isso eu permaneço aqui, vislumbrando essa paisagem sozinho. Sem ninguém ao lado para cutucar e dizer: vamos, está ficando tarde. Ou então deitar e olhar as nuvens. Ninguém vai fazer o que você fez, ninguém vai tentar com tanto vigor e persistência de novo. Vão me atrair de diferentes formas, mas ninguém vai passar um mês comigo até me pedir em namoro. Foi bom, independente do que eu fiz para que as coisas terminassem assim, foi bom... foi bom me sentir amado por poucos meses. Naquela época eu achava que você era mais do mesmo. Hoje - relativamente amadurecido - percebo que você era mais... mais do que eu merecia. Por que tocar nesse assunto agora? É que é inevitável ver você e não sentir um pouco de raiva. É mais inevitável ainda por ver minha vida tão bagunçada. Ninguém se encaixa, eu não me encaixo. Virei um destruidor de lares, dilacerador de corações. A verdade é que eu nunca vou te esquecer, independente do que aconteça. Estarei com a porta aberta, é claro, mas até que aconteça de novo, você ainda vai ser lembrança latejante, a única pessoa que gostou de mim de verdade. Putz, não é que aquela história sobre o primeiro amor é verdade? Só não pensei que teria que me lembrar disso com tanta dor. É, parece que terminei sozinho.

Autoconhecimento



É na infância que descobrimos quem somos? E se nos descobrirmos diferentes do que a sociedade espera que nós sejamos? É assim com Laura - em Tomboy - que se passa por Michael para poder conviver com os outros garotos do bairro. Laura não gosta de vestidos, usa bermuda e camisa regata. Aprendeu a dirigir com seu pai, já provou cerveja, e está sempre pronto para defender a irmã mais nova. É brincadeira de criança? Acho que não. Mas não é algo que deve ser pressionado. Naturalmente com o passar do tempo, ela mesma vai ser o que tiver de ser. Jeanne - sua irmã mais nova - que pouco sabe sobre as "leis" da sociedade, não se importa nem um pouco se sua irmã quer se passar por garoto, o que ela quer é que Laura seja feliz. E não é assim que devia ser? Por que perdemos tanto tempo rotulando as pessoas? Cada um cresce com os seus achismos, de que isso é certo e aquilo ali é errado. Cada um faz as suas escolhas baseando-se naquilo que acredita, mas isso não quer dizer que seja verdade absoluta. "Mas, dois garotos não podem ficar juntos, isso está errado". Está errado por que? Você leu em algum lugar e por isso acha que está certo? Tudo bem, você pode acreditar no que quiser, e quem sou eu para dizer que sua opinião é errada. Só acho importante avaliarmos o que é mais importante na vida, se é ser obrigado a seguir uma trilha - mesmo que você tenha que mudar para continuar nela - ou ser feliz sendo do jeito que é. Se nós todos fôssemos Jeanne, provavelmente poderíamos finalmente nos preocuparmos com o que realmente importa.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Café sem açúcar.

Daqueles que amargam na boca. É assim que eu venho me sentindo há alguns dias. Eu até tento esboçar um sorriso, mas logo sou descoberto: O que é que você tem, João? Eu tenho uma penca de coisas, só não tenho como conversar sobre isso agora. Nem sei se vou poder falar sobre isso algum dia. Cada vez que o telefone toca, meu coração aperta. Não venho recebendo notícias boas, não sei como contorná-las e nem como dividi-las com as outras pessoas. Uma vez que espalhar o problema não arranja solução, qual seria o propósito? O problema não é o problema, é o modo como ele está me afetando que me preocupa. Estou ácido, amargo, pouco tolerante, com o pavio curto. Uso de qualquer trecho mal dito para elaborar uma briga, discussão. Me afastei por opção. Hoje eu só quero acordar, cumprir as tarefas do dia e dormir, finalmente, dormir. Coloquei qualquer chance de relacionamento em caixas e decepcionei pessoas sem que fosse minha intenção. Infelizmente eu não venho conseguindo medir o que eu falo, não sei se vou ser bem entendido ou não, eu apenas falo e pronto. Depois do estrago... ah, fazer o que? Prefiro ficar quieto em casa, do que sair na rua e ver as pessoas felizes. Felicidade alheia é algo que anda me incomodando. Virei um caco de vidro pontiagudo, por isso ando isolado de tudo, com medo de que algum inocente se corte. Agora me pergunta se alguém entende o que está acontecendo comigo? Ninguém entende.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Eu queria ser super-herói.



Analgésico não alivia a dor no coração, mas te deixa dopado o suficiente para que você fique sem saber no que pensar. Tenho ficado cada vez menos tolerante, cada vez mais cansado, com uma vontade de desistir antes de chegar no chefão, de cair em um vão qualquer, game over. É como se houvesse um trecho onde eu não conseguisse passar de jeito nenhum. Tampei os ouvidos para os problemas dos outros, revirei as gavetas, encontrei problemas não resolvidos por lá, cheios de juros. Mexo no bolso e não há coins. Não há parceiro ou parceira para pedir ajuda. Asinhas, bolas de fogo, mushroom, nada. Não sei se o buraco é tão grande que eu não possa saltar, mas dizem os outros: só te dão o fardo que você pode aguentar. O fardo é pesado, o telefone não pára de tocar com notícias ruins. Não existe Luigi. É só eu - sozinho - contra o mundo. Seria estupidez chegar nessa fase da minha vida e desistir, não seria? Mas há calos nos dedos e eu não consigo ir mais adiante. Se o tempo acabar, já era. Seja lá quem esteja por trás desse jogo, coloca um trampolim, joga uma asinha para que eu possa voar, só dessa vez. Diminui o buraco para que eu possa pular sem medo de cair. Faz tempo que não me sinto Super, não quero ser coadjuvante, eu quero ser Mário, Sonic, Donkey Kong. E se não for pedir muito: coloca algo bem feliz no final da fase... eu vou precisar.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Há sempre uma surpresa.

Não se enganem, até as vidas mais monótonas - como a minha por exemplo - conseguem mudar radicalmente da noite para o dia. É quinta-feira e mais uma rotina parecida com a do dia anterior está prestes a recomeçar. O telefone toca, o número é desconhecido, e a voz... bem, a voz soa um pouco familiar. Rapidamente você se lembra de um evento há alguns anos atrás. Malas, lágrimas, videogame, uma foto que nunca foi encontrada. O banho de piscina, a vidraça quebrada, os cultos dominicais, os palavrões abafados, as raras brigas. Você se esquece de perguntar como conseguiram seu número, mata a saudade da voz, pergunta sobre os pais, os avós, e onde está morando. "Próximo da sua casa, você ainda mora no mesmo bairro? Estava pensando em tomarmos um café, o que acha?" Ele sugere. Eu falto o trabalho, me encontro na padaria, a mesma de sempre. Lembro dos bolos de chocolate, do dinheiro emprestado, das várias moedas de dez centavos balançando na bermuda, dos atrasos para voltar para casa, do outro irmão. "Por onde ele anda?" Eu pergunto. "Está estudando em São Paulo." Provavelmente cursando Odontologia, acabei esquecendo de perguntar. Trocamos nossos diários, falamos sobre os anos que passamos longe um do outro, das várias novidades, as quedas, os namoros fracassados, o quase noivado dele, o meu quase suicídio, e mais um bocado de coisa. Há sempre uma surpresa: nas esquinas, nos becos, lanchonetes, restaurantes, supermercados, nos engarrafamentos. Ele não me encontrou em nenhum desses lugares, pois as melhores surpresas são aquelas que a gente nem faz ideia de como começaram. O início de tudo pouco importa, o meio é que deve ser compreendido.