quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ação e reação.

Eu sempre costumo retribuir aquilo que me é oferecido. Abraços, afagos, carinhos, beijos, ombros, apertos de mão, e todo o resto. Amor, amor nem tanto, admito: nem sempre consigo ser recíproco. É do direito dos outros não corresponder aos meus sentimentos, logo, também é um direito meu deixá-los a míngua. Nem sempre costumo ser correto, agir conforme o planejado, ser cem por cento honesto. Tanto comigo, quanto com os outros. Já olhei meu telefone tocar várias e várias vezes, e ignorar. Eu poderia ter atendido e explicado que não daríamos certo, que tinha sido apenas uma noite de carência e nada além daquilo. Por medo de ser incompreendido, chamado de confuso, preferi ouvir as chamadas e fingir que não estava em casa. Eu poderia acabar com aquilo de forma rápida, mas faltava coragem. Já disse coisas que eu não sentia, mais uma vez, por covardia, por não conseguir ser sincero o suficiente para interromper um beijo com um "é melhor você ir embora". Quando ignorei, menti, e fingi, percebi que eu havia feito exatamente aquilo que fizeram comigo no passado. Entendi o motivo das minhas ligações nunca serem atendidas, os primeiros encontros que, ao meu ver, pareciam ir exatamente da forma como eu esperava, porém, no dia seguinte, se afogavam ainda em formação. Durante a vida, ainda iremos agir como uma dessas pessoas que costumamos criticar e dizer que não é um modelo a ser seguido. Ainda estaremos do lado oposto da moeda. Cruzaremos aquela linha que juramos de pé junto, que jamais cruzaríamos. Nos colocaremos na pele do lobo, e na pele do cordeiro. Agiremos como bons rapazes, e belas vagabundas. Diremos que o amor não vale nada, e no dia seguinte, acordaremos com uma vontade de amar o primeiro que pedir licença na fila do banco. A vida é como desferir golpes em um saco de areia: um dia você bate e no outro é atingido.

domingo, 28 de outubro de 2012

Quando o "nós" se tornou apenas "eu".

Virando o apartamento do avesso. Limpando cuidadosamente cada pedaço. Cada cantinho da parede. Tentando tirar a mancha de vinho derrubada no nosso último jantar. Os pratos, todos enfileirados em cima do balcão. Sujos. Serviço inacabado, como eu e você. Vinha ignorando, atravessando a sala rapidamente. Sem dar tempo suficiente para lembrar. Não sei de onde veio tudo isso. A insegurança, a vontade de não continuar. Não sei se você conheceu alguém, se sabe de algo que eu não sei, ou se apenas deu o que tinha que dar. Eu vinha deixando pra lá. Sempre adiando lavar os lençóis, encaixotar as poucas coisas que você esqueceu. Pasta de dente, escova de cabelo, um par de meias e o relógio que eu te dei de presente. De repente, não havia ninguém me acordando aos beijos. Ninguém dando bronca por ter deixado, mais uma vez, a toalha molhada em cima da cama. Uma xícara, um prato, uma taça. De um dia para o outro, voltei a ser eu. O "nós" havia saído pela porta há poucos dias atrás. Decidi que não deveria mais lamentar. A única saída era que não tinha saída alguma, a não ser seguir em frente. Lavei os pratos, coloquei seus pertences em uma caixa, e essa caixa atrás de uma porta com outras coisas velhas. Coisas que não tinham mais uso, como você. Objetos que foram esquecidos. Que não servem mais para nada. Que um dia foram importantes, e hoje só estavam ali para fazer volume. Passou um mês, e eu ainda não tinha esquecido. Decidi que era hora de sair. De sair daquele apartamento, de tentar respirar qualquer coisa que não fosse saudade. A dois quarterões dali, te reconheci jantando em um restaurante que costumávamos ir. Você não estava sozinho, e muito menos, parecia estar triste. Ver que eu me importava demais, me deixou extremamente irritado.Agora eu sabia exatamente o porque de você ter ido embora. O que eu sentia por você não era mais saudade, era ódio. Como do sólido ao gasoso, eu só precisava de mais algumas horas até que a raiva se dissipasse no ar. No dia seguinte, joguei a toalha molhada na cama de propósito, e pela primeira vez depois de um ano, foi bom não ouvir alguém reclamar.

sábado, 27 de outubro de 2012

Um é pouco, dois é bom. E três, é demais?

Para algumas, não.  Fazer sexo a três é uma das fantasias mais frequentes nos relacionamentos atuais. Acostumado com a monogamia, confesso que essa ideia chega a me assustar um pouco. Não que eu não faria, mas nunca tinha parado para pensar nessa hipótese. Além de uma mente aberta, é necessário que haja bastante cuidado quando se opta por realizar um desejo envolvendo uma terceira pessoa. Como separar o carnal do emocional? Sexo é uma coisa tão íntima, que eu não consigo acreditar que isso - futuramente - não vá afetar a relação do casal. Será que essa procura é gerada apenas por fetiche, ou existe uma falha no relacionamento que precisa ser reparada? É possível transar com alguém sem se envolver emocionalmente? Para essa última pergunta, eu sei que a maioria vai dizer que sim, inclusive eu. O problema, na minha opinião, não é matar a curiosidade, é essa curiosidade se transformar em uma tarefa rotineira. Virar necessidade. É preciso muita, muita maturidade de ambas as partes. Definir limites. Se o desejo for conjunto, não vejo nenhum problema. Mas se um dos dois não suporta nem ouvir essa ideia, o casal precisa entrar em consenso ou romper. Há dezenas de pessoas por aí que pensam como você. Não tente fazer algo que você não gosta, só para realizar uma fantasia que não é sua, só para que ele ou ela não termine com você. Ceda até onde você acha que consegue, se perceber que a corda está prestes a quebrar, solte, desista. Ultrapassar seus próprios ideais é irreversível. No final das contas, quem sai prejudicado é você.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Carta de despedida.

Sinto muito, mas eu só vim até aqui para dizer adeus. Eu queria, Deus sabe como eu queria, mas não dá. Eu não dirigi uma hora de carro para dizer que o problema não é você, ou que sou eu. O problema somos nós, essa é a verdade. É você, porque eu nunca vou me acostumar com o fato de que nós nunca iremos juntos ver um filme no cinema. Sou eu, porque eu nunca vou deixar de ir, mesmo que sozinho. Eu sei, a gente não precisa fazer tudo junto. Você não gosta de cinema, jantar a luz de velas e monogamia. É demais. É algo que eu não consigo fingir que não vejo. Ficar com você seria fugir, seria dizer que eu não gosto de mim como eu sou. Seria renegar minha autoria, minha maneira de escrever. Não vou mudar. Por você, nem por ninguém. Nada do que você diga vai mudar minha posição. Eu sei que você também não vai ceder. Quase oito meses... Por que agora? Não me arrependo de ter te acompanhado naqueles lugares cheios de gente, de ter virados noites em bares e ido trabalhar cansado no dia seguinte. Eu iria aonde você fosse. Você talvez não percebia, mas eu não gostava. A bebida alcoólica que você trazia na mesa e eu bebia, aquilo era renúncia. Cada gota que descia pela minha garganta. E eu renunciaria para sempre. Mas qual o sentido de continuar se só um se doa? Até hoje, você nem tentou sentar comigo no sofá depois do jantar e assistir um daqueles milhares de filmes que eu alugo todo final de semana. Fui tonto, isso não devia ter chegado tão longe, mas a gente sempre tem esperança, não tem? De que as coisas - naturalmente - acabem mudando, e quem sabe se transformando naquilo que a gente esperasse que fosse. Porque no início, eu te juro, eu cheguei a pensar por uma fração de segundos, que tu fosses a pessoa certa. Droga, eu me engano tanto com as pessoas. O mínimo que eu espero parece uma exigência absurda. Cobrar sinceridade parece insano. E eu não quero mais te atrasar, me atrasar. Lá fora, alguém busca por ti. E tu vai encontrar alguém que goste de te acompanhar nos bares todas as quintas, que goste de ir trabalhar cansado no dia seguinte. E essa pessoa vai odiar filmes, vai te acompanhar até a sacada do teu apartamento e dividir uma carteira de cigarro contigo. Lá fora. Aqui dentro não. Aqui dentro, eu, me despeço e despedaço, por que não? A vontade que eu tenho é a de rasgar essa carta e começar tudo de novo. E eu vou começar tudo de novo, mas não com você.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Não nasci para ser filho da puta.

O errado sou eu que adiciono sentimento em tudo. Que amo sem ser correspondido. Que dou presente sem estar namorando. Que aposto tudo que eu tenho sem o menor conhecimento de caso. Eu é que deveria mudar. Deixar de ser caseiro, trocar os filmes franceses por baladas, os relacionamentos sérios por casos de uma noite, os livros por várias carteiras de cigarro. Eu é que devo me adequar, me alinhar, deixar de ser atrasado. O errado sou eu que procuro doação beneficente em casa de prostituta. Que afago os cabelos, para meia hora depois ser traído, que peço sinceridade, enquanto o mundo só gosta de mentira. A língua leve, afiada, como se tivessem nascido para isso. Eu é que devo deixar de ser ingênuo, desacreditar totalmente nas pessoas, nas palavras que saem de suas bocas, nas promessas batidas, nos beijos demorados. Hoje em dia, nada consegue me soar verdadeiro. Acho sempre que há um interesse por trás de um abraço. Um fingimento nas beiradas de um “sinto sua falta”. Eu é que deveria me entregar sem esperar nada. Recusar ligações, mentir sobre o que eu sinto, engatar um relacionamento que eu sei que não vai ter futuro, e mesmo assim dar início, só para depois pedir um tempo e ver o outro lá parado sem saber o que dizer. Eu deveria amar muito nos olhos, e por dentro não sentir porra nenhuma. Dizer que vou estar ali sempre, e uma semana depois, sumir sem deixar rastro. Eu é que deveria ser filho da puta, mas acabei escolhendo o caminho errado.